terça-feira, 6 de novembro de 2007

Por que Literatura Juvenil ?


Os rótulos podem enganar. Literatura, a boa literatura, não precisa de adjetivos que determimen idade, gênero, opção sexual ou raça. É só literatura.

No entanto, não se pode negar que a literatura escrita para jovens tem suas particularidades. A primeira é justamente que o qualificativo não diz respeito ao seu produtor, mas àquele a que se destina.
Essa ái ao lado sou, quando tinha uns sete anos. Já gostava de ler (comecei com 6 e não parei mais) e a revista em minha mão, com certeza, já me trazia prazer. Era destinada ao público infantil, era para mim...

Os opositores dos "rótulos" infantil e juvenil alegam que obras como as de Marina Colasanti ou Bartolomeu Campos Queirós não têm um leitor determinado: podem ser lidas por adultos ou crianças. Respeitando-se as diferenças possíveis entre um ser de sete anos e um de setenta, imagino quão diferentes podem ser os entendimentos de obras como "Em busca do tempo perdido" para esses mesmos seres.

Mas, se não existem os "rótulos" infantil e juvenil , também não deve existir o adulta. Leitores de sete ou de setenta deveriam poder , também, ler a obra desse excelente autor.

Sabe-se , no entanto, que não é assim que as coisas acontecem. Mesmo em adaptações para quadrinhos, crianças de sete anos dificilmente se sentirão atraídas pela obra francesa, embora muitos adultos de setenta anos adorem ler revistas em quadrinhos....

O fato é que os interesses são diferentes e que as obras têm atrativos diferentes para leitores infantis, juvenis e adultos. É claro que há crianças precoces, jovens "bicho grilo" e adultecentes, que fogem aos padrões comuns de preferências de cada grupo. Exceções existem em tudo.

Mas convenhamos: qual adolescente gosta de ler "Os Lusíadas"? Não estou falando em ler ou não ler, mas sobre "gostar de ler", aquele sentimento resultante da fruição de uma obra com a qual nos identificamos.

Harold Bloom afirma que só gostamos das obras que têm algo a ver conosco, que, de algum modo, respondem a perguntas nossas. Todorov, em entrevista recente, afirma que também ele passou pela "leitura de juventude", composta de livros leves, agradáveis, para depois chegar aos clássicos. Bela dupla: Bloom e Todorov!
Drummond, em sua "Infância" , não sabia que sua história eram mais bonita que a de Robson Crusoe!

Por que, então, em nosso país, a Academia condena tanto a dita literatura de entretenimento, que , geralmente, é a porta de entrada dos jovens para o desenvolvimeto de seu papel de leitor? Por que condenam os 15 livros de Marcos Rey, que fizeram parte da série Vaga-lume, e que são enorme sucesso entre os leitores jovens?

Literatura juvenil: para que e por quê? Porque acredito que esse seja o caminho para revertermos parte do cenário caótico de leitura em nosso país, porque percebo que é justamente enquanto adolescente que o sujeito se afasta do livro, às vezes até para retomá-lo mais tarde, quando poderá ler o que quiser, o que lhe der prazer, sem fazer provas, resumos, sem dar satisfações a ninguém.

E também porque poucos lhe dão a atenção que deve ter, até pela importância na história de cada um de nós, leitores de todas as idades.

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