sábado, 27 de dezembro de 2008

História em quadrinhos

A revista "Discutindo Literaura" está com um número especial dedicado à história em quadrinhos. Há vários artigos interessantes, que passam pelo aspecto histórico, desde as primeiras adaptações de clássicos da literatura universal, até os dias de hoje, com versões orientais do HQ. Vale a pena conferir.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Concurso literário

Pessoal, encontrei dicas para concursos literários. Aproveitem...

A Livraria e Loja Virtual Asabeça organiza anualmente o Prêmio Literário Livraria Asabeça, categorias Poesia, Contos/Crônicas e Infantil, com apoio da Scortecci Editora, para autores brasileiros, maiores de 16 anos, residentes ou não no Brasil. O tema é livre. O Prêmio tem por objetivo descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira. Inscrições somente pela Internet. Inscrições: até 30 de junho de 2009. Mais informações com NOELE ROSSI pelo telefone: (11) 3032-8848. Regulamento completo no LER MAIS.http://www.concursosliterarios.com.br/home.php

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Cursos de extensão

Para o próximo semestre, pretendo oferecer vários cursos sobre literatura infantil e juvenil, na PUCPR. Gostaria de saber quais temas seriam mais importantes para vocês. Por favor, apresentem sugestões.

Comunidade no orkut

Amigos, criei uma comunidade no orkut, com o nome "Literatura juvenil e infantil", para que possamos conversar sobre os autores e as obras de que gostamos. Gostaria de contar com a participação de vocês nas enquetes e nos fóruns.

domingo, 14 de setembro de 2008

A partir de amanhã, dia 15 de setembro, estará acontecendo o 9ºFórum de Letras, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
O Fórum é organizado pelas professoras Deyse Link e Inez Gaias e este ano conta com uma programação intensa:

Dia 15/09
Oficinas:
Hablando de fonética... ¿Cómo suenan los sonidos en español?” - Profª. Ester Moreno de Mussini (PUCPR-Piedralaves)Local: Projeção 1 - 1º andar
Grupo de Contação de Histórias - Profª. Drª. Marta Moraes da Costa (PUCPR) e grupo SaberesLocal: Projeção 2 - 2º andar
Literaturas, Leituras e Escola - Profª. Drª. Cátia Toledo (PUCPR)Local: Projeção 3 - 2º andar
16:45 – 17:45
Palestra: A relação entre LIBRAS e a inclusão do surdo - Profa. Dra. Rossana A. Finau (PUCPR)Local: Projeção 1 - 1º andar
18:00 – 18:45
Comunicações / painéis
18:45 – 19:10
Momento Cultural: Coral Champagnat
19:10 – 20:30
Conferência de Abertura: Discurso e História - Profº Dr. José L. Fiorin (USP)
20:45 – 22:15
Conferência: A identidade do índio ao longo da História - Prof.ª Dr.ª Janice C. Thiél (PUCPR)

DIA 16/09/2008
15:00 às 16:45
Oficinas:
Três olhares sobre o índio: a literatura indianista, indigenista e indígena - Profª. Drª. Janice Thiel (PUCPR)Local: Projeção 1 - 1º andar
A Reforma ortográfica da língua portuguesa - Ângela Gusso (PUCPR)Local: Projeção 2 - 2º andar
Teachers’ awareness and concern for pronunciation - Carmen Terezinha Koppe –NAP /UFPRLocal: Projeção 3 - 2º andar
Las TICS en el aula de ELE: Recursos en Internet para el profesor - Profa. Sara (Instituto Cervantes - Curitiba)Local: Lab. 1 - 2º andar
16:45 às 17:45
Palestra: Letramento e escolarização - Ângela Gusso (PUCPR)Local: Projeção 1 - 1º andar
18:00 às 18:45
Comunicações/painéis
18:45 às 19:10
Momento Cultural: Grupo de música (Leonardo Bora/Helder/Nicolau – Letras)
19:10 às 20:30
Mesa-redonda: Ensino de Língua Portuguesa e Literatura-Profº Dr. José L. Fiorin (USP); Profº Dr. Gilberto de Castro (UFPR); Profº Dr. Juarez Polleto (UFTPR); Profª Drª Marta M. da Costa (PUCPR). Mediação: Profª Drª Cátia Toledo de Mendonça (PUCPR).
20:45 às 22:15 -
Conferência: A Trajetória da Poesia sobre o Trabalho/Trabalhador no Modernismo Brasileiro - Profº Dr. Juarez Polleto

DIA 17/09/2008
15:00 às 16:45
Oficinas:
Estudo do artigo de opinião e suas aplicações no ensino Rosane de Mello Santo Nicola (PUCPR)Local: Projeção 1 - 1º andar
La destreza escrita en la clase de E/LE a partir de un enfoque creativo Prof. José Iván Rodríguez (Instituto Cervantes - Curitiba)Local: Auditório Thomas Morus -2º andar
INTERCULTURAL IQ Piri Szabó -ELT Academic ConsultancyPearson Longman BrasilLocal: Projeção 2 - 2º andar
16:45 às 17:45
Palestra: Palestra e lançamento do livro: "Língua Inglesa e a dificuldade de aprendizagem da pessoa adulta" Autora - Profa. Ms. Patrícia Helena Rubens Pallu -(UP)Local: Projeção 1 - 1º andar
18:00 às 18:45
Comunicações/painéis
18:45 às 19:10
Momento Cultural: Grupo de dança Flamenca
19:10 às 20:30
Conferência: O duplo papel dos estereótipos na comunicação intercultural - Profª Drª Inês Signorini (UNICAMP)
20:45 às 22:15 -
Mesa-redonda: Discussão a partir da conferência de Inês Signorini Profª Drª Inês Signorini (UNICAMP); Profª Ms. Ane Cibele Palma (PUCPR); Profª Ms. Inês Gaias (PUCPR); Profª Drª Juliana C. F. Bergmann (PUCPR). Mediação: Profª Ms. Lucia M. S. Kremer (PUCPR).

DIA 18/09/2008
17:00 às 18:00
Círculo de leitura: Jorge Luis Borges (Instituto Cervantes)
18:00 às 19:00
Palestra: Entre Funes e Letes: narrativa e formação da consciência histórica - Profº de História Dr. Daniel Medeiros
19:10 às 20:30
Palestra Musicada: Brasil Século XX: ao Pé da Letra da Canção Popular - Profa. Luciana Worms e Wellington Borges Costa (Wella). 1º Momento.
20:45 às 21:15
Intervalo: Momento de autógrafo (livro: Brasil Século XX: ao Pé da Letra da Canção Popular)
20:45 às 21:15
Grupo de música/teatro (Léo/Helder/Nicolau – Letras)
21:15 às 22:15
Palestra Musicada: Brasil Século XX: ao Pé da Letra da Canção Popular Profª. Luciana Worms e Wellington Borges Costa (Wella). 2º Momento.


Aproveitem o evento. As inscrições podem ser feitas no 1º dia ou naquele de que vc queira participar.
Cada noite custa R$5,00.





domingo, 27 de abril de 2008

Concurso literário


Recebi um e-mail, da prof. Marcella , avisando sobre um concurso literário. Repasso, para quem quiser se aventurar...

O Grupo editorial português Leya lança prêmio literário que dará €100.000 ao melhor romance inédito escrito em português.Além do ganhador, o júri poderá atribuir um ou mais "Prêmios Leya Finalistas" no valor de €25 mil para cada obra.Pedimos que o senhor divulgue entre seus pares pois a intenção do Grupo é receber o maior número possível de originais de autores brasileiros, africanos e portugueses.Os romances agraciados com a premiação serão publicados por uma das editoras do grupo e vão ser distribuídos simultaneamente em todos os países que adotam oficialmente a língua portuguesa. Podem concorrer ao prêmio autores de qualquer nacionalidade. O prazo máximo para o envio dos originais é 15 de junho de 2008.O vencedor do prêmio será anunciado na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro deste ano.O regulamento do Prêmio Leya pode ser acessado em http://www.leya.com/Sobre a LeyaLeya, maior empresa editorial portuguesa, nasceu em janeiro de 2008 como uma holding de 12 editoras. Com sede em Lisboa, o grupo compreende as Edições ASA, a Editorial Caminho, as Publicações Dom Quixote, a Gailivro e as Edições Nova Gaia, a Texto Editores, as Edições Ndjira (Moçambique), as Edições Nzila (Angola) e também as editoras Caderno, Lua de Papel, Oceanos e Livros d'Hoje.Com sede em Lisboa, a Leya é hoje a maior empresa editorial portuguesa, líder no mercado de edições gerais.Ocupa também lugar de destaque no mercado do livro didático e paradidático. Entre os autores no catálogo das editoras do grupo estão José Saramago, Antonio Tabucchi, António Lobo Antunes, José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner Andersen, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Ondjaki, João Ubaldo Ribeiro, Graciliano Ramos, Moacyr Scliar, Mário de Carvalho, Mia Couto, Gonçalo Tavares, entre outros grandes nomes do mundo lusófono.Estamos a disposição para maiores esclarecimentos.Atenciosamente,Sonia Nascimento®11.3375.7175 e 11.8641.3048 cel.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Congresso de Literatura Infantil e Juvenil

Descobri hoje que vai haver um congresso de Literatura Infantil e Juvenil, no Rio de Janeiro, na UFRJ.
Infelizmente o prazo para inscrições de trabalhos terminou dia 15, mas ainda dá tempo de participar como ouvinte. Seguem algumas notícias sobre ele:

V Encontro de Literatura Infantil e Juvenil - Leitura e Crítica
FACULDADE DE LETRAS - UFRJ
8 a 10 de julho de 2008 – DAS 9 ÀS 17h
Nos dias 8, 9 e 10 de julho de 2008, acontecerá, na Faculdade de Letras de UFRJ (Ilha do Fundão), das 9h às 17h, o V Encontro com a Literatura Infantil e Juvenil: leitura e crítica. Durante o evento, haverá conferências, palestras e mesas-redondas, com renomados pesquisadores, escritores e ilustradores, além da apresentação de pesquisas e relatos de experiência com a temática do Encontro. O objetivo principal do V Encontro é a formação de professores e alunos, por meio de debates teóricos e propostas pedagógicas, visando à conscientização do (futuro) profissional de Letras, Artes, Educação, Música, História e áreas afins para a importância de leitura e do estímulo ao prazer de ler, com base em obras literárias de qualidade. Público alvo: professores de ensino fundamental e médio; alunos de graduação e pós-graduação de Letras, Educação, Música, História, Belas Artes e áreas afins; pessoas interessadas em literatura infantil e juvenil.
No dia 8/07 haverá palestra com Bartolomeu Campos Queirós e Pedro Bandeira
Mesas redondas do dia 8:

Escritos indígenas: identidades emergentes – Profa. Dra. Rosa Cuba Riche (CAP/UERJ), Daniel Munduruku (escritor), Eliane Potiguara (escritora)
A herança medieval: releituras da Literatura Infantil: Profa. Dra. Mônica Amim, Profa. Dra. Izabel Cristina Faria (FGS), Profa. Dra. Maria Elizabeth Graça de Vasconcellos (UFRJ).
Pesquisa em literatura infantil e juvenil - Profa. Dra. Rosa Gens (UFRJ); Profa. Dra. Alessandra Garrido Sotero (UNISUAM), Profa. Mestre Antonella Catinari (CPII)
Adaptação e literatura - Profa. Dra. Luci Ruas, Profa. Dra. Maria Teresa G. Pereira (UERJ), Prof. Dr. Mario Feijó Monteiro (PUC)
Mesas redondas do dia 9:

A morte na literatura infantil – Profa. Dra. Luci Ruas (UFRJ), Profa. Dra. Lelia Parreira Duarte (UFMG), Prof. Dra. Marcia Lisboa (UNESA)
O ensino de literatura infantil nas Faculdades do RJ - Profa. Dra. Regina Silva Michelli (UERJ/FFP e UNISUAM), Profa. Dra Sonia Monnerat Barbosa (UFF), Prof. Dr. José Nicolau Gregorin Filho (USP)
Literatura infantil e juvenil no espaço escolar: ações, legislação e práticas- Prof. Dr. Armando Gens (UERJ/UFRJ), Profa. Dra. Cátia Valério Ferreira Barbosa (UFRJ/CMRJ), Profa. Mestre Gina Paula Bernardino Capitão Mor (SME/FERLAGOS) e Prof. Mestre Jorge Marques (CPII/CMRJ)
África e literatura – Profa. Dra. Maria Teresa Salgado (UFRJ), Profa. Mestre Cristiane Madanêlo (CAP/UFRJ), Sonia Rosa (escritora - SME), Conceição Evaristo (escritora e professora)
Leitura na escola: formando leitores – Profa. Dra. Leonor Werneck dos Santos (UFRJ), Profa. Dra. Regina Gomes (UFRJ) e Prof. Dr. José Helder Pinheiro (UFCG)
Aproveitem. A oportunidade é rara.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sobre Lygia Bojunga Nunes


O texto a seguir está publicado nos anais do CELIP. É um dos meus prediletos, deu-me grande prazer na elaboração e na apresentação . Espero que apreciem...


TCHAU À MULHER GOIABADA

Profª Drª Cátia Toledo Mendonça ( Pontifícia Universidade Católica do Paraná)

LYGIA Bojunga Nunes se destaca dentre as autoras brasileiras por suas narrativas fascinantes. Falar de um dos aspectos de sua obra é mutilá-la, é deixar de lado todo um universo a explorar. Mesmo assim, escolhi falar sobre a imagem da mulher que nela encontramos, parte da preocupação com o ser humano em geral, independente do sexo, que se percebe em sua obra.
A princípio, é preciso que se assinale a abundância de personagens femininas mas também a variedade de personagens masculinas. Esta é uma primeira constatação : as questões femininas ,na obra desta autora, nos aparecem , várias vezes, sob ângulo masculino.
Outra observação feita foi a de que há várias mulheres habitando a obra bojunguiana. Algumas delas aparecem em narrativas diferentes, outras, apenas se apresentam, dizem um verso e vão embora ...
Há também a discussão de vários aspectos do feminino. Há questões que se ligam à identidade, à sua colocação no mundo, na sociedade; há a necessidade de se manifestar, enquanto criadora ; há a relação homem/mulher, há a discussão de estereótipos femininos ..
Esta comunicação pretende investigar a presença feminina na obra de Lygia Bojunga Nunes , desde Os Colegas até Tchau!, obra que entendo como um marco na ficção infanto-juvenil no que diz respeito à imagem feminina, devido às situações ímpares que as narrativas contidas nessa obra apresentam.

Desde a sua primeira obra, Os Colegas, editada em 1972, as personagens femininas de suas narrativas merecem destaque. A personagem Flor ( de Lis), uma cachorrinha de raça, é capaz de se despojar das marcas de riqueza que a cobriam em troca de sua liberdade, de sua verdadeira identidade , pois os adereços impostos por sua dona já a faziam duvidar que fosse realmente uma cachorra . Depois, numa demonstração de coragem, é capaz também de sacrificar-se em nome da amizade que tem pelos companheiros. É ela a autora da idéia que será colocada em prática, para tentar salvá-los. Essa mulher que aparece zoomorfizada na pele de Flor pensa , age , resolve os problemas, é uma mulher valente, destemida sem deixar de ser feminina, embora não se caracterize pela situação materna. Ela é apenas um dos colegas, que lutam pela sobrevivência, independente de ser homem ou mulher. Laura Sandroni, em seu estudo sobre a obra dessa autora, aponta a crítica à "representação caricatural do feminino às classes sociais",
[1] encontradas nas palavras da dona de Flor, que quer " uma cachorra caríssima e de raça puríssima, pra todo mundo achar linda e saber quanto custou." (p.13)
Percebe-se que Flor aparece como a mulher que é exibida como um troféu. A esta imagem de mulher é que Lygia faz crítica, mostrando a cachorrinha feliz por se livrar de todos os apetrechos que não a deixavam ser quem realmente era. A mulher-objeto não tem mais lugar.

Angélica, a segunda obra de Lygia, de 1975 - traz uma cegonha-mulher como protagonista . Mais uma vez a autora discute questões femininas através da figura de animais . As mulheres dessa história - Angélica, Jandira e Mimi - são diferentes e cada uma representa um aspecto do feminino. Angélica é a mulher segura de si, que não vê problema algum em pagar a conta do restaurante para o namorado , que sai em busca de seus direitos, principalmente o de lutar pelo que acredita. Ouçamos sua conversa com Porto :
- Puxa, que vergonha.
- O quê?
- Você pagou a conta pra mim.
- Ué, se você pagasse pra mim eu não ia achar vergonha nenhuma .
- Ah, mas é diferente.(...)
- Porque é o homem que tem sempre que pagar: é isso.
- Ih, Porto, essa idéia é tão antiguinha ! (p.43)

Em contraste com as atitudes de Angélica , a Mulher-do-Jota passa a narrativa inteira submissa ao marido, por isso sequer lhe sabemos o nome. Deixa-se esmagar pelo autoritarismo do marido, cujo discurso machista é inconfundível :
- Mas eu vou sozinho.: minha mulher fica em casa.
- Ah Jota ! disse a mulher toda triste. Quis dizer muito mais, mas as palavras trancaram na garganta e só que conseguiu sair foi uma lágrima pequenina.
- Ah o quê? Lugar de mulher é dentro de casa cuidando dos filhos, pronto, acabou-se! Não é, Canarinho?
- Mas , Jota ,
[2] esse negócio de mulher não poder trabalhar já era !
- Pra mim continua sendo, pronto, acabou-se.

Somente no final da narrativa consegue impedir que o marido fale por ela e revela seu nome - Jandira - afinal a sua identidade. Há um caminho percorrido, há conquistas que devem ser levadas em conta, há questões sobre a relação entre o casal.
A outra mulher , Mimi-das-perucas, é a representante da mulher desmiolada, vaidosa ao extremo, consumista, que vive em salões, em compras e só valoriza a aparência, sem notar que seus desejos exagerados fazem mal ao marido, que é obrigado a abrir mão daquilo com que gosta de trabalhar para poder satisfazer os caprichos da esposa. Esta acaba por se consumir a si própria, já que não pára de consumir tudo, e um dia , " ficou tanto tempo debaixo daquele secador que os cabeleireiros usam, que secou a peruca, a cabeça, Mimi toda secou e morreu."(p.93) . Tanto Jandira (a princípio) quanto Mimi podem ser vistas como representantes de um padrão feminino que não assume responsabilidades, que se porta como uma menina, denominado por Linda Schierse Leonard de "puella aeterna ", a menina que não cresce , que precisa de ajuda para assumir sua identidade mulher. Esse padrão se repetirá em várias outras personagens, como veremos depois.

Também em A bolsa amarela, de 1976, surgem questões que dizem respeito ao relacionamento homem/mulher . A "vontade de ter nascido garoto em vez de menina", que aparece na primeira página da narrativa, já dá o tom que encontraremos em seu desenvolver. Mas ela não vem sozinha e duas outras vontades fortes se apresentam juntas : ' a de crescer de uma vez e deixar de ser criança" e a "vontade de escrever" Das três vontades de Raquel, duas passarão a ser temáticas constantes na obra desta escritora : as relações homem/mulher e a mulher/escritura .
Raquel não se conforma de não poder fazer coisas que são só para meninos, deseja libertar-se de um modelo comportamental estabelecido, inclusive contra a instrução feminina. Ouçamos a sua voz :
Se eu quero jogar uma pelada, que é o tipo do jogo que eu gosto, todo mundo faz pouco de mim e diz que é coisa pra homem; se eu quero soltar pipa, dizem logo a mesma coisa. É só a gente bobear e fica burra: todo mundo tá sempre dizendo que vocês têm que meter as caras no estudo,, que vocês é que vão ser chefes de família, que vocês é que vão ter tudo. Até para resolver casamento - então eu não vejo - a gente fica esperando vocês decidirem.
[3]

O discurso feito por Raquel é condizente com as reivindicações das mulheres na década e setenta, quando o movimento hippie incorporou às idéias de Betty Friedman valores baseados na igualdade entre as pessoas, qualquer que fosse a sua raça, sexo ou cor. No entanto, afinal, "a vontade de ser menino emagreceu tanto que foi embora" , o que nos mostra que a menina assumiu sua identidade feminina, sem reservas , por isso poderá crescer normalmente . Por outro lado, ela encontra na escrita a realização que busca na vida real. O mundo de fantasia passa a ocupar um lugar importante em sua vida, tanto que a vontade de escrever é a única que fica com ela , como podemos observar mais adiante :
"- E a tua vontade de escrever?
- Ah, essa eu não vou soltar. Mas sabe? Ela agora não pesa mais nada: agora eu escrevo tudo que eu quero, ela não tem tempo de engordar."
Se lembramos as dificuldades que a mulher teve para conquistar seu direito de escrever, perceberemos que esta é outra questão feminina constante na obra desta autora. Norma Telles, em seu texto Escritoras, Escritas, Escrituras
[4], nos fala sobre a dificuldade da mulher de passar de musa à criadora, uma vez que este papel era destinado ao homem e a mulher, para assumi-lo, teria que "matar o anjo do lar, a doce criatura que segura o espelho de aumento, e teria de enfrentar a sombra, o outro lado do anjo, o monstro da rebeldia ou da desobediência." Portanto, é importante que Raquel tenha assumido sua identidade feminina junto com seu lado criativo, mostrando que é possível ser mulher e criadora. Assim como Raquel consegue se libertar do papel secundário destinado à mulher na escrita, outras personagens também o farão, como veremos adiante, e não mais precisarão , como as mulheres goiabadas, esconder seus escritos entre os cadernos de receitas, domínio exclusivamente feminino.

Ainda considerando a relação homem/mulher , outra personagem interessante é o galo Afonso, pois traz em seu discurso, sob a ótica masculina, uma questão importante: as mulheres queriam realmente mudar ?
Então eu chamei as minhas quinze galinhas e pedi, por favor, pra elas me ajudarem. Expliquei que vivia muito cansado de ter que mandar e desmandar nelas todas noite e dia. Mas elas falaram: Você é nosso dono. Você é que resolve tudo pra gente. Sabe, Raquel, elas não botavam um ovo, não davam uma ciscadinha, não faziam coisa nenhuma, sem vir perguntar :"Eu posso? Você deixa?" E se eu respondia: " Ora, minha filha, o ovo é seu, a vida é sua, resolve como você achar melhor", elas desatavam a chorar, não queriam mais comer, emagreciam, até morriam. Elas achavam que era melhor ter dono mandando que ter que resolver qualquer coisa. Diziam que pensar dá muito trabalho.
[5]

Observe-se que esse comportamento era apresentado por muitas mulheres da época, que não tinham sido criadas para a nova condição feminina e não poderiam sequer pensar em assumir responsabilidades e tomar decisões. Novamente o padrão da puella se apresenta : são mulheres que não cresceram e precisam da proteção do homem para que se sintam seguras.

Corda Bamba, de 1979, traz uma série de questões relativas à mulher, a começar pela figura da Mulher Barbuda, ser híbrido que por aparentar a masculinidade através da barba, não perde o instinto feminino e nem o respeito de seu marido que " ach(a)o legal! Nem eu me importo dela ter barba, nem ela se importa d'eu engolir fogo." (p.12) . A barba , segundo Jean Chevalier, é o "símbolo da virilidade, de coragem, de sabedoria"
[6], por isso " as rainhas egípcias são representadas com barba, como sinal de poder igual ao rei."
Essa igualdade de poder é percebida através do respeito mútuo entre o casal, que tem características distintas , apreciadas como pertinentes à identidade de cada um. Foguinho apresenta a sensibilidade feminina para as coisas simples da natureza, como o soprar do vento, o movimento das marés, o nascimento das estrelas ...enquanto sua mulher ostenta uma barba. Assim , as diferenças os completam, sem disputas entre eles.
A avó de Maria traz outro aspecto interessante da mulher : fora casada quatro vezes, mas ainda assim está só. A razão disso : dona Maria Cecília de Melo Mendonça queria mandar nos maridos. Quem nos narra sua história é a velha contadora de histórias, comprada de presente para Maria:

Só sei que um dia, Dona Maria Cecília Mendonça de Melo, que não gostava de homem de barba, que não gostava do nome Pedro, que não gostava de homem com mania de trabalhar, encontrou um homem de barba chamado Pedro e trabalhando pra chuchu. Ele começou a gostar dela e pediu ela em casamento. Ela ficou tão espantada de ser pedida em vez de pedir, que topou. E quando foi querer mandar nele, ele falou: nem eu mando em você nem você em mim. mas ela cismou que era ela que mandava, e que ele tinha que raspar a barba, e que ele tinha que trocar de nome, e que mais isso e mais aquilo, e aí um dia ele falou :tchau! Só volto quando você parar com essa mania de querer mandar em mim.
[7]

Observa-se que a relação entre o casal é prejudicada pela necessidade de um mandar e, neste caso, a mulher. Dessa forma, Lygia Bojunga traz de novo o lado masculino da relação entre o casal. A mulher não é só a vítima, ela pode ser também a razão de discordância, pode ela própria dificultar uma relação de igualdade. Ao retomar a barba, a autora parece querer nos dizer que ser masculino não significa necessariamente o poder, pois Pedro, aquele que a tem, é quem propõe a igualdade de direitos, negada por Maria Cecília. Esta representa o padrão "amazona de couraça" apontado também por Linda Leonard, mulheres que , à primeira vista, são confiantes, forte, poderosas, mas que se revelam solitárias e imensamente assustadas, por trás da couraça.

De 1980 é O sofá estampado, em que a autora retoma as personagens zoomorfizadas . As fêmeas, também nesta narrativa , representam vários aspectos do feminino. Temos, por exemplo, a dona-de-casa retomando a imagem da mulher fútil, que só se preocupa com as aparências e , por isso, deve combinar tudo. Ela possui uma gata angorá que a complementa , pois passa o dia todo frente à televisão e vê na propaganda os sinais de status necessários para viver : tem que comprar tudo. Essas mulheres desmioladas se opõem à figura da avó de Vítor, uma mulher inquieta, que não nega sua condição feminina , mas não deixa que sua curiosidade e a vontade de ver o mundo morram em seu peito, já que "Desde pequena ela tinha vontade de viajar, queria por força conhecer o mundo. E queria conhecer tudo de tatu ; como eles eram antigamente, o que eles comiam, onde é que tinha vivido o primeiro tatu. Foi ser bandeirante, excursionista, bolsista.(...) Estudou arqueologia, viajava cada vez mais longe.. "
[8]
Depois que o marido, companheiro de viagens, morreu, ela teve que parar, pois deveria criar sozinha os filhos. Portanto, não foge a seu papel de mãe e somente quando o último filho se formou, ela chamou os cinco e anunciou: " Bom, meus queridos, vocês estão com a cabeça cheia de idéias, estão com saúde, daqui pra frente cada um se vira à vontade, tá? - Tirou a poeira da mala e voltou a viajar. " (p.50)
Mais uma vez a autora parece nos mostrar que, para assumir sua identidade, a mulher não precisa negar sua condição feminina , desde que haja vontade de conciliar , desde que o preconceito não fale mais alto. Esta é uma mulher saudável, que não desenvolveu nenhum dos padrões patológicos apontados por Linda Leonard.
Outra personagem interessante nesta obra é Pôzinha., uma hipopótama que se apaixona por Ipo, para quem começa a trabalhar e ganha muito dinheiro. Com o tempo, Ipo a afasta de si, levando em conta apenas seu trabalho. Aos poucos Pôzinha se ergue, estuda administração de empresas à noite, funda uma agência de publicidade e se torna rica. Só que neste processo, para compensar a carência afetiva, transforma-se em uma "workholic", uma viciada no trabalho, como tantas mulheres já o são : suas mágoas são canalizadas para força de trabalho , que , afinal , não preenche o vazio. Essa também é uma personagem que se encaixa no padrão da amazona de couraça, pois embora se mostre irredutível quanto à necessidade de lucro, de se auto-afirmar, revela-se magoada a ponto de procurar o inventor da máquina de transformar a mágoa em algo positivo.

Este longo percurso até chegar a Tchau! , obra que nomeia esta comunicação, nos apresentou diversos enfoques do feminino, mas em nenhum deles havia o rompimento com a imagem de mãe apontada pela burguesia , em que era "considerada base moral da sociedade, (a mulher de elite), a esposa e mãe da família burguesa deveria adotar regras castas no encontro sexual com o marido, vigiar a castidade das filhas, constituir uma descendência saudável e cuidar do comportamento da prole."
[9] Nesse percurso, a autora procura mostrar as possibilidades de convivência entre os vários aspectos femininos.
Nesta obra, composta por quatro contos, também encontramos várias faces do feminino, inclusive aquelas já percebidas em outras narrativas, como a mulher escritora, que surge em A troca e a tarefa, em que a escritura se torna fundamental na vida da mulher , a ponto de as duas terem o mesmo fim: acabam juntas.
Em O bife e a pipoca a mulher dona-de-casa é retomada, aquela que se mostra preocupada apenas com o tapete manchado, onde caiu o bife de Tuca que, por vergonha, não consegue pedir mais comida. Quando a empregada pergunta se seria necessário servir de novo o garoto, a mãe responde : " Será que é preciso? - Examinou o tapete. - Passa a escova pra ver se não ficou nenhuma manchinha." (p.37) Ela não tem a sensibilidade de perceber o embaraço do menino, sua única preocupação é a limpeza do tapete. Por outro lado, a mãe de Tuca nos traz um aspecto do feminino que não surgira na obra bojunguiana até então : a mulher degradada. É Tuca quem nos conta :
Quando a minha irmã tranca a minha mãe daquele jeito é porque minha mãe já tá tão bêbada que faz qualquer besteira pra continuar bebendo mais. - Começou a sacudir o Rodrigo. - Você olhou bem pra cara dela, olhou? Pena que ela não tava chorando e gritando pra você ver. Ela chora e grita ( feito nenem com fome) pedindo cachaça por favor. (p.41/42)

Essa mulher da favela, tão distante daquela preocupada com o tapete, traz para a literatura infanto-juvenil uma imagem que faz parte da realidade de várias crianças, não somente das pobres, mas ela não é comum na literatura. Mais uma vez tem-se a impressão de que a autora não quer deixar de lado nenhum aspecto do feminino e é por isso que traz a figura da Mãe, mulher sem outra identidade, nomeada apenas assim, com letra maiúscula e tudo.
A Mãe, de Tchau! , mais que uma personagem da literatura , personifica a condição feminina de mulher, que se apaixona e é capaz de deixar a família, os filhos, para viver o seu amor. Irônico então é o nome atribuído à personagem .
Na condição de mãe de duas crianças, seria esperado dela que desempenhasse o papel de Hera, "protetora das mulheres casadas legitimamente"
[10], que tentasse manter sua família unida, que lutasse contra possíveis paixões do marido. No entanto, é ela quem conhece outro homem, é ela que se apaixona por um grego - não por acaso - e deixa o lar, a despeito dos pedidos do marido e da filha. A luta entre Hera e Afrodite parece se concretizar nesta personagem, que se vê arrastada pelo amor erótico - talvez o próprio Eros, em forma de grego - e abandona o lar. É a Mãe que nos conta sobre a paixão que sente por esse homem :
Se ele me diz, vem te encontrar comigo, mesmo não querendo eu vou; se ele fala que quer me abraçar, mesmo achando que eu não devo eu deixo; tudo que eu faço de dia, cuidar de vocês, da casa, de tudo, eu faço feito dormindo: sempre sonhando com ele; e de noite eu fico acordada, só pensando, pensando nele. (...) só de chegar perto dele eu fico toda suando, e cada vez que eu fico longe eu só quero é ir pra perto, Rebeca! Rebeca! Eu tô sem controle de mim mesma.
[11]

Ao nomear essa personagem de Mãe e fazê-la apaixonar-se tão perdidamente por esse homem, Lygia Bojunga parece querer afirmar a existência da mulher por trás ( ou à frente) da mãe. Ela é Mãe, mas é também Mulher . A mulher, talhada pelos valores burgueses, em sua condição de quase santa e assexuada, não é a que encontramos. Então, percebemos que estamos diante de outra faceta feminina, que ainda não surgira na obra desta autora e muito menos em de outros tantos autores.
Interessante também é notar que ao conversar com o pai , Rebeca se refere à mãe, com letra minúscula, ou seja, não é mais a identidade feminina que encontramos, como no início da narrativa, mas o papel desempenhado dentro da família. Interessante também é constatar que esse pai se revela fraco, sente-se impotente diante da possibilidade de criar os filhos sozinho, e transfere para Rebeca a responsabilidade de reter a mãe em casa. Chantagem pura.
Essa faceta feminina existe, por isso é mostrada por Lygia Bojunga, independente do leitor a que se destine a obra, no entanto, não podemos deixar de perceber que a concepção desta personagem parece romper um trato feito , há muito tempo, entre escritores de obras para crianças, de construir uma imagem feminina idealizada, em que a figura materna se sobreponha a qualquer outro aspecto desse ser.

Considerações finais
Após a leitura da obra de Lygia Bojunga Nunes, percebe-se que a imagem feminina se revela sob vários aspectos , como em um poliedro: há várias faces que compõem o todo. Essa visão cubista se constrói porque a autora não se limita a apresentar a mulher sob uma ótica feminista ou machista. Na verdade, parece querer deixar ao leitor a possibilidade de construir a sua imagem., reafirmando a impossibilidade de determinar-lhe um único perfil.
Suas faces se multiplicam , se perpetuam nas diversas personagens não citadas, aqui, por absoluta falta de espaço. É o caso de obras como O meu amigo pintor, em que cada mulher deveria ter uma face, e naõ ser "assim sempre igual" ou em Seis vezes Lucas, narrativa habitada por várias mulheres.
Apesar desta diversidade, a obra Tchau! se destaca do conjunto pela singularidade das imagens que apresenta, principalmente no conto homônimo e em O Bife e a pipoca. Entendo que a autora, ao romper barreiras e trazer para a literatura infantil as imagens dessas mulheres, demonstra a necessidade de que a mulher seja vista , também na literatura, como um todo, não a partir de estereótipos pré-estabelecidos pela sociedade burguesa.
Assim, a obra de Lygia Bojunga Nunes revela-se imensamente rica para a reflexão sobre o papel da mulher no mundo, na sociedade. Poucas são as autoras que conseguiram mostrar a mulher de modo tão completo; poucas são as autoras que permitem, assim como ela, que cada leitor escolha seu caminho neste fascinante bosque que nos apresenta.
Notas:

[1] SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga. Rio de Janeiro : Agir, 1987. P.120.
[2] NUNES, Lygia Bojunga. Angélica. 18ed.Rio de Janeiro : Agir, 1995.p.89/90
[3] NUNES, Lygia Bojunga . A Bolsa Amarela. São Paulo : Agir, 1986.p.16.
[4] História das Mulheres no Brasil, São Paulo : Contexto, 2000. página 408.
[5] Idem, p.35.
[6] CHEVALIER,Jean& GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. São Paulo : José Olympio, 1988p.121.
[7] NUNES, Lygia Bojunga.Corda Bamba, 15ed.Rio de Janeiro: Agir,1993. p.102
[8] NUNES, Lygia Bojunga . O sofá estampado6ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1985.p.49
[9] História das mulheres no Brasil, página 230.
[10] KURY, Mario da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro :Jorge Zahar Editor. , p.180.
[11] NUNES, Lygia Bojunga. Tchau! 4ed.Rio de Janeiro: Agir, 1989. P.14.

Referências Bibliográficas
1. CHEVALIER,Jean& GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. RJ : José Olympio, 1988.
2. História das mulheres no Brasil . org. de Mary del Priori. São Paulo : Contexto, 2000.
3. LEONARD,Linda Schierse.A mulher ferida. São Paulo : Saraiva, 1990
4. NUNES, Lygia Bojunga . A Bolsa Amarela. Rio de Janeiro : Agir, 1986.
5. _____ Angélica. 18ed.Rio de Janeiro : Agir, 1995.
6. ___ Corda Bamba, 15ed.Rio de Janeiro: Agir,1993.
7. ___ Os colegas. 11ed.Rio de Janeiro : José Olympio, 1983.
8. _____ Tchau! 4ed.Rio de Janeiro: Agir, 1989.
9. SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga. Rio de Janeiro : Agir, 1987.
10. KURY, Mario da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro :Jorge Zahar Editor. ,

quarta-feira, 12 de março de 2008

Paiol Literário



Hoje foi o primeiro evento do Paiol Literário de 2008.A convidada era Marina Colasanti que, como todos sabem, é minha "ídala". A palestra foi ótima. Dentre as várias palavras de extrema importância com que Marina nos presenteou, quero destacar algumas: "Eu sou aquilo que li. Para o bem ou para o mal, sou o que as minhas leituras me fizeram". Como é importante a escolha bem feita, em relação ao livro indicado para leitura dos alunos! Se eles serão a soma de suas leituras, que grande responsabilidade temos nós, professores, durante longo tempo seus únicos orientadores!
Marina Colasanti também disse que devemos oferecer ao leitor sempre mais do que ele já tem. A progressão sistemática nos textos oferecidos aos alunos é , então, fator de extrema importância. Para ela , não há nenhum valor em dar aquilo que ele já tem, pois não lhe acrescenta nada. Daí seu fazer literário não estar voltado para um trabalho facilitado com a literatura escrita para crianças. Segundo ela, não entender algumas palavras não faz mal nenhum, ao contrário, a criança poderá desenvolver seu vocabulário, ao pesquisá-las. Frisou ainda: os professores é que acham que os textos devem ser fáceis e, até, muitas vezes, trocam palavras do texto, para torná-lo mais fácil. Nesse sentido, Marina é enfática: "Peço que, se quiserem contar minhas histórias, contem-nas sem alterar nada. Senão, podem dizer que é "inspirado" em meu texto, mas não que aquela história é minha". Grande Marina...
Para terminar, gostaria de destacar o que ela disse sobre suas leituras: "Aprendi sem me dar conta de que estava aprendendo, senão seria muito chato..." Essa foi para os pedagogos, não acham?
Foi uma noite emocionante, como todas aquelas em que encontro essa grande mulher, essa grande escritora, essa pessoa especial, inigualável...Muitos beijos para Marina...

Literatura Juvenil Online




O texto a seguir não foi escrito por mim. Encontrei-o na Internet, em uma de minhas pesquisas. Coloquei-o no blog como um meio de manter as pessoas informadas, pois achei o texto bastante interessante. Só acho que faltaram os nossos autores nessa lista ! Não é justo deixar de lado nomes como Lygia Bojunga Nunes, Marina Colasanti e Bartolomeu Campos Queirós, quando se fala em literatura juvenil... De qualquer maneira, vale a leitura.




A liberdade infinita da literatura juvenil
ANDRÉ FORASTIERI - Especial para a Folha de S.Paulo
Existem livros mágicos. Quem lê um deles vai para sempre acreditar no poder mágico dos livros, do livro. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" é um dos mais impressionantes. A escala e a velocidade de seu sucesso sugerem alquimias secretas. O jovem bruxo não se materializou por encanto. Mas gerou um furacão inesperado. Fez do segmento "livro juvenil" o mais quente da indústria editorial. Com consequências no cinema, no merchandising, nos videogames e na TV.
Mas que é um livro juvenil? Até recentemente, a indústria do livro dividia a literatura em dois grupos principais, "adulta" e "infantil" (ou "infanto-juvenil", outro nome, mesmo significado vago). Neste último segmento, agrupava álbuns coloridos para nenês e tijolos de 700 páginas. Para fazer uma idéia: em dezembro de 2001, a revista "Publisher's Weekly", bíblia do mercado editorial, publicou a lista dos 276 livros infantis que venderam mais de 1 milhão de cópias nos EUA. O mais vendido é "Charlotte's Web", de E.B. White, criadora do ratinho Stuart Little. Em seguida, vem "Outsiders", escrito aos 18 anos por S.E. Hinton e filmado por Francis Ford Coppola. Nada a ver um com o outro. Cabe de tudo na lista. Das Tartarugas Ninja a gente como Dr. Seuss ("O Grinch"), R.L. Stine (da coleção de terror juvenil "Goosebumps") e Roald Dahl ("A Incrível Fábrica de Chocolate").
No Brasil também se mistura banana com laranja. Nossas listas atuais de best-sellers infanto-juvenis revelam "1984" e "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, ao lado de Cinderela e Cebolinha. O escritor de ficção-científica Thomas M. Disch diz que os bons autores de livros para adolescentes devem manter a clareza e a inocência de garotos sabidos como Peter Pan. Chama neotenia. É como os biólogos batizaram a retenção de características imaturas ou larvais no estágio adulto. Para Disch, "os jovens não são seres inferiores, nem miniadultos. São apenas diferentes dos adultos". Têm outras necessidades, outros interesses, outro humor, menos respeito pelo passado, muita curiosidade sobre o futuro, pouca paciência com regras que não criaram, imaginação fértil e muita pressa.
O homem é uma espécie que conta histórias, conta o biólogo Steven Pinker. Para ele, a criança que se encanta com um conto de fadas está fazendo uso de uma herança genética da humanidade. Pinker defende que essa capacidade é uma vantagem evolutiva. Em todos os cantos do planeta, as linguagens são divididas em objetos e ações: substantivos e verbos. Elas nos permitem transmitir informações sobre o que vai acontecer depois, organizando fatos numa sequência temporal. Não há maneira melhor de transmitir informação densa do que por meio de uma história. Por isso elas têm poder. E os livros incorporam esse poder. Cada livro lido nos muda. Passa a fazer parte da nossa história pessoal. A sequência das obras lidas por cada um é única, pessoal e intransferível.
A adolescência é nosso período de liberdade máxima como leitores. Já temos repertório e ambição suficientes para encarar qualquer "lista telefônica". E não temos, ainda, as obrigações sociais que fazem de boa parte da leitura madura um tedioso desfile de manuais (como dar um jeito na economia, na carreira, escolher o vinho, diminuir a barriga etc.), castigo que já começa com as leituras obrigatórias para o vestibular (a maldição de "Iracema").O psicólogo Jean Piaget defendia que, nessa fase, "o ser humano está tentando dominar os elementos que lhe faltam para a razão adulta. Precisa aprender a lidar com idéias abstratas e, por isso, precisa ler livros que lidem com abstrações". Deve, portanto, ler histórias fantásticas e selvagens. Quando você não sabe exatamente do que é capaz, precisa de horizontes distantes e idéias desafiadoras. Exige viver aventuras perigosas que testem seus limites.
É por essa razão que todo leitor, nessa fase, adora se apossar de livros escritos para adultos. Pode ser uma velharia desbeiçada e empoeirada da estante, herança do irmão mais velho ou do avô.Hoje, no Brasil, é inevitável que os jovens acabem lendo Paulo Coelho, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca. Ou algum desses livros históricos-fantásticos, estrelados por Cleópatra, Alexandre, Júlio César, Jesus Cristo, faraós, Rei Arthur, Bórgias, Medicis. Os "technothrillers" de Tom Clancy, os dramas legais de John Grisham, o horror suburbano de Stephen King, os melodramas góticos de Anne Rice.Qualquer leitor esperto de 13 anos digere numa boa um best-seller típico, que muitas vezes é um livro juvenil para adultos, disfarçado. E quem já passou dos 30 e não leu Sidney Sheldon, Danielle Steel, Irving Wallace ou Morris West no ginásio que atire a primeira pedra.A adolescência também é o momento em que alguns de nós se apaixonam perdidamente por gêneros —principalmente, o policial ou a ficção científica. Com duas vantagens. Uma, você sempre tem uma noção do que te espera. Outra, você tem a história inteira do gênero à sua disposição. Quem se apaixona por Agatha Christie vai descobrir Georges Simenon e Raymond Chandler. Quem fica louco por Isaac Asimov acaba encontrando H.G. Wells e William Gibson. Tipo da paixão que bate e fica.Nenhum desses autores buscava o leitor juvenil. Nem os grandes autores de aventura, como Robert Louis Stevenson e Jack London. Zorro, Drácula, Sherlock Holmes, Conan e o Capitão Nemo foram criados para a diversão de pais, não de filhos. Deram origem e foram parcialmente substituídos pelas histórias em quadrinhos e, mais recentemente, pelos jogos eletrônicos. Essas obras continuam clássicas e são lidas até hoje.
Os romances escritos especificamente para adolescentes são diferentes e muito fáceis de reconhecer. São estrelados por garotos e meninas da mesma faixa etária do leitor, dos 10 aos 15 anos, saindo de seu cotidiano e adentrando um universo desconhecido. Enfrentam bruxas, desvendam conspirações, escondem-se em foguetes, lideram piratas. Muitas vezes, também sofrem e sangram.Alguns apresentam universos paralelos para onde o leitor adoraria se mudar, ou de onde ele fugiria voando. Os melhores apresentam as virtudes e desvantagens de cada lado do espelho, com os protagonistas simultaneamente abraçando e rejeitando os dois campos opostos. Exatamente como o adolescente, que mantém um pé na infância enquanto dá um passo maior que as pernas em direção à maturidade. O maior clássico juvenil desse tipo é "O Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger —melhor se lido até os 15 anos e relido periodicamente depois disso.
A inglesa Joanne Kathleen Rowling, criadora de Harry Potter, escreve livros assumidamente juvenis e é o novo paradigma do segmento. Soube combinar muito bem duas vertentes tradicionais da literatura de seu país: os livros que se passam em internatos e a paixão pelo ocultismo.Aventuras divertidas em colégios internos rígidos são populares na Inglaterra há muito tempo. É uma realidade muito distante da nossa e nunca pegou por aqui. A principal exceção é a série de Jennings (no Brasil, Johnny, publicado pela Ediouro). São 25 livros escritos entre 1950 e 1994 por Anthony Buckeridge, que estabeleceram as convenções do gênero.O crítico inglês Francis Spufford tem uma boa explicação para o sucesso desses livros. As escolas internas são "cidades de crianças". Não há pais por perto. São um espaço de liberdade, onde as regras —justamente por serem externas e impostas— podem ser quebradas ou enfrentadas, sem culpa.O que importa são as regras de convivência estabelecidas pelas próprias crianças —como aprendemos a conviver com nossos semelhantes e diferentes. Inclusive o garoto riquinho e metido da turma inimiga, o velho mestre misterioso, a professora insuportável e a garota tapada.
É por isso que Harry e seus leitores adoram o colégio Hogwarts.Esses livros de internato fazem parte do que Spufford chama de "estágio da cidade", quando o jovem leitor passa a se interessar por livros que exploram a convivência realista entre as pessoas. Seja numa fazenda, numa ilha secreta, num vilarejo do velho oeste ou num internato. Na Inglaterra, essas obras exploram também a relação entre as classes sociais.O ambiente escolar é a única grande diferença entre Harry e o personagem Tim Hunter, criado por Neil Gaiman, em 1990, na minissérie em quadrinhos "Os Livros da Magia".Tim é um garoto órfão, míope, tímido e moreno, de 13 anos. Um dia é levado para conhecer o universo da magia. Se cumprir seu treinamento, poderá se tornar o maior mago do universo. Ganha um mascote/totem para sua jornada: uma coruja, símbolo da sabedoria secreta. Bem parecido com Harry, que só estreou sete anos depois.Gaiman garante que Rowling não plagiou sua criação, mas se inspirou na mesma fonte que ele: a tradição mágica britânica.
Há desconfianças de que houve acordo entre os autores.Realmente as artes na Inglaterra têm ligação tradicional com o oculto. E não só em tempos antigos. A ilha deu ao mundo o mais famoso mago do Século 20, Aleister Crowley. A partir dos anos 60, presenciou a renovação do misticismo e o aparecimento de uma nova geração de criadores fortemente envolvidos com magia. Entre os mais conhecidos estão os escritores de livros e quadrinhos Alan Moore ("A Voz de Fogo" e "Do Inferno") e Grant Morrison, cuja cultuada série "Os Invisíveis" é a matriz de "Matrix", o filme.
No Reino Unido, até as obras de respeitáveis acadêmicos cristãos, como o inglês J.R.R. Tolkien e o irlandês C.S. Lewis, têm componentes místicos muito fortes. Ambos andam mais populares do que nunca e têm sido muito lidos por adolescentes à espera do quinto episódio de "Harry Potter".Amigos e contemporâneos, os dois faziam parte do grupo de intelectuais conhecido como "os cristãos de Oxford", criado nessa universidade na década de 30. Colocaram todo seu fervor religioso nas obras que lhes deram fama, "O Senhor dos Anéis" e "As Crônicas de Narnia".
Tolkien, estudioso da literatura saxônica, pretendia, com a "saga do anel", criar uma mitologia artificial, mas crível, e tipicamente inglesa, à altura do que imaginava que o país merecesse. Foi mais bem sucedido do que poderia imaginar. Sua influência se espalhou pela cultura mundial e está nos lugares mais inesperados —até no filme "Xuxa e os Duendes". Tolkien assumia que a Terra Média era um mundo pré-cristão, cuja história se passava antes do pecado original. Não se incomodava com os paralelos entre o pão dos Elfos e a eucaristia, ou entre Galadriel e a Virgem Maria. Só admitiu que "Gandalf é um anjo". Lewis foi além.
As sete "Crônicas de Narnia" são o mais explícito proselitismo cristão, com meninos e meninas explorando um universo paralelo muito imaginativo, onde reina o leão Aslan, o Cristo dessa outra realidade. O primeiro livro, "O Leão, a Bruxa e o Guarda-Roupa", voltou às listas de mais vendidos pelo mundo afora e é muito recomendado por igrejas cristãs da Inglaterra e dos Estados Unidos. É um dos autores prediletos de J.K. Rowling.
Outra grande influência na criação de Harry Potter é Diana Wynne Jones, a grande dama da fantasia inglesa. Escrevendo para jovens desde 1973, já tem vários clássicos no currículo, inclusive os quatro volumes das "Crônicas de Chrestomanci", iniciadas em 1977 e agora popularizadas fora da Inglaterra. Seu personagem principal, o garoto Christopher Chant, é um mago que guarda os portais entre os mundos. Também anterior à "explosão Potter" é Terry Pratchett , o autor mais vendido do Reino Unido nos anos 90, em qualquer gênero. Somente agora está ficando popular em outras línguas. A série "Discworld", iniciada por "A Cor da Magia", une fantasia alucinada com o mais idiossincrático humor inglês.
Os principais companheiros contemporâneos de Harry Potter nas listas de best-sellers são a família Baudelaire, o ladrãozinho Artemis Fowl e a poderosa Lyra da Língua Mágica —todos em breve num cinema perto de você. Os nove livros de "Desventuras em Série", escritas por Daniel Handler sob o pseudônimo de Lemony Snicket, merecem ser lidos por todos os fãs da "Família Addams". Contam a desgraçada vida dos três órfãos Baudelaire, às voltas com criminosos encardidos e roupas pinicantes. "Artemis Fowl" é outro astro. O maquiavélico menino prodígio do crime usa supercomputadores para engambelar fadas e enfrentar exércitos mitológicos. O irlandês Eoin Colfer dispara frases secas de tira americano como "a voz que emanava do alto-falante era tão séria quanto um inverno nuclear". Philip Pulmann ocupa um lugar especial. Ganhou prêmios literários importantes e tem admiradores e detratores igualmente apaixonados. A razão é que sua trilogia "Fronteiras do Universo" é herética, um libelo anti-religioso e anticristão. Inspirada no "Paraíso Perdido", de John Milton, a série relata a batalha final entre a Autoridade, as forças do controle e do ritual, que aprisionam a humanidade há milênios, e a República do Paraíso, que vem lutando pela liberdade desde que os anjos se rebelaram contra Deus. Pulmann é um paradoxo: coloca sua imaginação incomparável a serviço de um elogio do materialismo. Diz que "depois de comida, teto e companhia, não há nada que o homem deseje tanto quanto histórias".



André Forastieri, 37, é editor e co-fundador da Conrad Editora, especializada no leitor jovem. Agradece a Valderez, sua mãe, por tê-lo ensinado a ler, e a João Carlos, seu pai, pela coleção completa do Sítio do Picapau Amarelo, que ganhou em 1972




terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Discurso de paraninfa


No dia 29 de janeiro de 2008, tive a honra de ser paraninfa da turma de Português/Espanhol que se formou ao final de 2007, na PUCPR. Em meu discurso, fiz algumas reflexões, que gostaria de dividir com quem leia este blog.


Meus queridos afilhados, mis queridos alunos, buenas notches....
Estar hoje , aqui, com vocês, compartilhar este momento especial, decisivo em suas vidas, é muito importante para mim, por vários motivos.
Em primeiro lugar, quero agradecer-lhes a honra deste título de paraninfa que me deram e que manterá nossos nomes unidos, no belo convite prateado, eleito por vocês, para registrar esta hora preciosa. Serei sempre a madrinha desta turma de Espanhol, formandos de 2007, escolhida em conseqüência do trabalho e da amizade que desenvolvemos durante o tempo passado juntos .
Lembro bem o início, nos primeiros períodos, quando a turma era enorme, mal cabia na sala, pois uniam-se os alunos de Português e Espanhol, para as aulas de Gêneros Literários. Quanta confusão naquela época! Lembram? Aos poucos, foram amadurecendo, a turma foi diminuindo e hoje os quinze alunos que aqui estão são aqueles que superaram tudo, que ultrapassaram as muitas barreiras para realizarem a conquista de um diploma universitário: são o “creme de la creme”.
Assim, testemunhar a alegria deste momento em que vocês chegam ao fim de uma etapa , que tão poucos brasileiros conseguem começar , é também um privilégio.
Por tudo isso, acho importante que, como madrinha desta turma, eu faça uma pequena reflexão sobre o lugar de vocês nesta sociedade, para o qual vocês têm se preparado.
Vivemos um momento em que a civilização está em crise, quando a imaginação está sendo morta pela presença maciça das imagens (todos conhecem o clichê : uma imagem vale mais que mil palavras) e as faculdades de pensar se atrofiam. Então, a formação de professores de Línguas e Literaturas, ganha importância, pois representa mais um ponto de resistência contra a mediocridade, pois sabemos a importância da leitura, conhecemos os vários universos possíveis e, por isso mesmo, podemos orientar nossos alunos na contra- mão da mediocridade que caracteriza estes tempos.
Wilson Martins afirma, em sua obra “A palavra escrita”, que vivemos num mundo em que “a palavra escrita perdeu a sua dignidade, em que o homem, deixando cada vez mais de pensar, se infantiliza vertiginosamente”. Por isso, continua o autor, é que o livro está em crise, pois “o livro é a conseqüência necessária do raciocínio e não pode existir, nem se compreende que exista, onde o raciocínio desapareceu.”
Se relembrarmos algumas declarações, feitas em cadeia nacional, podemos ter melhor dimensão de como a situação exposta por Wilson Martins se aplica em nosso país. Há um tempo atrás, um certo ex torneiro mecânico, com a intenção de estimular os jovens à leitura, declarou : “Sei que ler é chato, mas é necessário...” Semana passada, Fernando, um das participantes do “Big Brother 8”, vangloriando-se do grande feito, declarou : “Graças a Deus, nunca fui de ler livro!” E aqui estamos nós, professores do curso de Letras, a exigir que os alunos leiam, raciocinem, questionem, critiquem...Graças a Deus, digo eu!
Persistimos no valor da inteligência, da crítica, da capacidade de discernir que são alimentadas pela leitura. Persistimos na importância do professor, mesmo quando esse título perde o antigo prestígio e o ensino passa ser visto como mais uma mercadoria a ser vendida.
Tenho sido professora a minha vida inteira. Não saberia ser outra coisa . Sinto orgulho do que sou e de poder contribuir para a formação de novos professores, porque apesar dos baixos salários, do desprestígio que em nosso país existe em relação a nossa profissão, não consigo ver outra que seja mais digna, mais necessária.
Hoje, temos ouvido algumas crianças dizerem que não adianta estudar, que tem gente com pouco estudo que ocupa cargos de extrema importância em nosso país, mas não posso e não quero ver isso como uma regra. Creio que este é apenas um momento, que irá passar, para dar à boa formação o lugar que lhe é de direito. Da mesma forma, analisando as várias profissões- e a cada dia surgem muitas novas- vejo que pouquíssimas podem se realizar sem a ajuda de professores.
Há, portanto, que se alterar o quadro atual, que se valorizar o professor, reverenciado em tantos países, apontado pelo povo, aqui mesmo no Brasil, segundo pesquisa recente, à frente de várias outras profissões, como o segundo profissional mais confiável. Há que se mudar o quadro atual e aí, meus queridos afilhados, estarão vocês, já prontos para dar sua contribuição à sociedade, para “transmitir com lealdade , integridade e honestidade os ensinamentos humanos e científicos que façam dos jovens confiados a vocês cidadãos conscientes”, porque vocês já o são, foram formados para isso, e me orgulho de ter contribuído para essa formação.
Mas, a minha área é a Literatura. Foi ela que nos aproximou e é a ela que busco, para finalizar este discurso.
Meus conhecimentos de espanhol são parcos, vocês sabem, mas vou me atrever a citar Borges, em homenagem a vocês, para que, depois das reflexões um tanto sombrias que fiz acima, possamos nos voltar para o céu, para as estrelas. Em sua sabedoria, o poeta criou o seguinte haicai:

“Em el desierto
acontece la aurora
alguien lo sabe”

Quem, melhor que vocês , que lutaram tanto por uma nova aurora, para serem esse alguém? Ela há de vir, nós sabemos, e vocês saberão apreciá-la....
E é também do céu que trago minhas palavras finais, na voz de uma nossa antiga conhecida: Marina Colasanti, na forma de um pequeno conto, retirado do livro “Contos de amor rasgados”: No mar sem hipocampos

Assim que anoiteceu, saiu para pescar. Peixes não, estrelas.
Afastou-se da casa, atravessou um campo até seu limite.
Na linha do horizonte, sentado à beira do céu, abriu a caixa de frases poéticas que havia trazido como iscas. Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia.
Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul, deixando desenrolar todo o molinete.
E , pacientemente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas, começou a longa espera de que uma estrela viesse morder o seu anzol.

“Ora direis ouvir estrelas!” Não os quero nefelibatas, meus afilhados, nem andando de cabeça para baixo. É preciso estar com os pés no chão para seguir em frente, mesmo porque a estrada é difícil, mas é necessário também acreditar em uma nova aurora e sonhar em alcançar estrelas, para que possamos fazer de nossas vidas algo melhor. Aqui, em nosso curso de Português –Espanhol, esperamos ter contribuído para o estoque de frases poéticas, que lhes permitam muitas noites de pescaria...
Além disso, sendo eu professora, assim como vocês o são agora, depois de um longo percurso , digo a vocês , do fundo de meu coração, que vale buscar o céu, porque no meio do caminho, se encontramos pedras, achamos também estrelas, como vocês, que brilharão, para sempre, na minha lembrança....
Asta la vista....

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Concursos literários


Seguem, abaixo, informações sobre alguns concursos literários que estão disponíveis no site http://www.concursosliterarios.com.br/:


Estão abertas as inscrições para o III Concurso de Poesia e II de Conto da UEA. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até 2 de fevereiro. Tanto a poesia quanto o conto deverão ser entregues em um envelope, junto com a ficha de inscrição, no horário de 8h às 12h e 14h às 18h, na recepção da Escola Normal Superior, avenida Djalma Batista 2470 - Chapada.
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Os concorrentes devem ser de nacionalidade brasileira, que residam ou não no Amazonas, com 18 anos completos em 2008 e inscrever, no máximo, uma poesia e um conto. Os trabalhos apresentados serão submetidos, para análise e julgamento, à Comissão Julgadora constituída por membros da Academia Amazonense de Letras.
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As obras literárias serão julgadas com base nos seguintes critérios: adequação ao gênero literário indicado para concorrer; presença característica de literariedade; coerência temática e originalidade; escrita original utilizando linguagem expressiva que estimule a imaginação e a reflexão; e narrativas que permitam o fluxo do pensamento, contribuindo para a construção da consciência individual, social e ética.
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O primeiro colocado com a melhor poesia receberá, além de livros, o troféu caneta de ouro Luiz Bacelar. E o primeiro colocado com o melhor conto receberá, além de livros, o troféu caneta de ouro Márcio Souza. Os três primeiros vencedores dos dois quesitos serão premiados com livros.



VII Prêmio Literário Livraria Asabeça - 2008
A Livraria e Loja Virtual Asabeça organiza anualmente o Prêmio Literário Livraria Asabeça, categorias Poesia, Contos/Crônicas e Infantil (nova), com apoio da Scortecci Editora, para autores brasileiros, maiores de 16 anos, residentes ou não no Brasil. O tema é livre. Tem por objetivo descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira.INSCRIÇÕES:Inscrições até 30 de junho de 2008 e deverão ser feitas somente pela Internet.Ao fazer a inscrição, o autor estará concordando com as regras do prêmio, inclusive autorizando a publicação dos trabalhos em livro pela Scortecci Editora e responderá por plágio, cópia indevida e demais crimes previstos na Lei do Direito Autoral. A Livraria e Loja Virtual Asabeça escolherá uma Comissão Julgadora composta de três membros de renomado prestígio literário por categoria, e uma Comissão Organizadora que resolverá os casos omissos deste regulamento, se houver.



Prêmio Minas de Literatura
O Prêmio Minas Gerais de Literatura abre espaço para os jovens escritores com a maior premiação nacional: R$ 212 mil. As inscrições se encerram no dia 29 de fevereiro de 2008.