Texto publicado na revista TRAMA, da UNIOESTE, em 2015
DE MONTEIRO LOBATO A PEDRO
BANDEIRA, AS ADAPTAÇÕES DOS
CLÁSSICOS NO BRASIL
Cátia Toledo Mendonça*
RESUMO: Este artigo discute as adaptações dos clássicos, feitas para jovens no Brasil,
enfatizando dois autores em particular: Monteiro Lobato e Pedro Bandeira, procurando
evidenciar as características particulares de cada proposta e a validade da leitura dessas
adaptações para o processo de formação do leitor. O texto se constrói a partir dos
pressupostos da Estética da Recepção, envolvendo principalmente os conceitos de
horizonte de expectativa e de repertório, como suporte para as discussões sobre a
validade das adaptações.São discutidas as obras Dom Quixote das crianças, A marca de
uma lágrima e Agora estou sozinha. A primeira uma adaptação da obra de Cervantes,
feita por Monteiro Lobato, a segunda, uma releitura de Cyrano de Bergerac, de Edmond
Rostand, e a terceira, uma releitura de Hamlet, as duas últimas feitas por Pedro Bandeira.
PALAVRAS-CHAVE: Adaptações dos clássicos, Monteiro Lobato, Pedro Bandeira.
ABSTRACT: This paper discusses adaptations of the classics,made for young people
in Brazil, emphasizing two authors in particular: Monteiro Lobato and Pedro Bandeira,
intending to highlight the particular characteristics of each proposal and the validity of
the reading of these adaptations to the reader´s formation process.The text builds on
the assumptions of Aesthetics of Reception, mainly involving the concepts of
expectation´s horizon and repertoire, as support for discussions on the validity of the
adaptations. Don Quixote of children will be discussed, The mark of a tear and Now
I am alone. The first is an adaptation of the work of Cervantes,by Monteiro Lobato, the
second, a rereading of Cyrano deBergerac, Edmond Rostand, and the third, a rereading
of Hamlet, the latter two made by Pedro Bandeira.
KEYWORDS: Adaptations of classics; Monteiro Lobato;Pedro Bandeira
Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia,
não há muito, um fidalgo dos de lança em cabido, adarga antiga e
galgo corredor.
(Cervantes)
¯ Ché! ¯ exclamou Emília. ¯ Se o livro inteiro é nessa perfeição de
língua, até logo! Vou brincar de esconder com o Quindim. “Lança em
cabido, adarga antiga, galgo corredor”… Não entendo essas
viscondadas, não…
¯ Lança em cabido quer dizer
lança pendurada em cabido; galgo corredor é cachorro magro que
corre e adarga antiga é... é...
(Monteiro Lobato)
UMA QUESTÃO DE PONTO DE VISTA
A polêmica em torno da validade da leitura dos clássicos ou de suas
adaptações, no Brasil, continua a suscitar discussões acirradas.
De um lado estão aqueles que defendem a leitura do original e do
outro, os que defendem a leitura da adaptação, como ponte para o original.
Recentemente, a discussão foi retomada e ganhou espaço nas redes
sociais, a partir da proposta de Patrícia Secco de adaptar a obra de Machado
de Assis para torná-la mais acessível aos jovens, mas principalmente aos
adultos, que tenham dificuldade de compreensão do texto machadiano.
O argumento da escritora, que escreve para o público juvenil, é que
dessa maneira ela estaria dando oportunidade às pessoas com pouca
escolaridade, ou, como ela mesmo afirma “os mais simples”, de ler Machado
de Assis.
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, publicada em 9 de
maio de 2014, reagindo ao abaixo assinado (com mais de 1000 assinaturas)
contra a publicação que pretende fazer de O alienista, de Machado de Assis
e de A pata da Gazela , de José de Alencar , a autora afirma:
Estou horrorizada. É muito triste pensar que algumas pessoas acham
que Machado de Assis, o mestre da literatura brasileira, não pode ser
lido pelo sr. José, eletricista do bairro do Espinheiro, que, apesar de
gostar de ler, não cursou mais que o primário, ou pelo Cristiano,
faxineiro de uma farmácia de Boa Viagem, que não sabe nem mesmo
o significado da palavra boticário. (http://www.estadao.com.br/
noticias/arte-e-lazer,patricia-engel-secco-defende-projeto-de-facilitarobra-de-machado-de-assis,1164221,0.htm
. Acesso em 14 de maio de
2014)
Nota-se, pela declaração da escritora, a suposição de que ler o texto
que ELA publicará, será ler Machado de Assis. Na verdade, o que Patrícia
Secco está fazendo é uma prática antiga no Brasil, como veremos adiante,
mas ler o texto produzido por ela jamais será ler Machado de Assis ou
Alencar, porque ao facilitar a obra para “os mais simples” ela retirará tudo
que fez de Machado e de Alencar grandes clássicos da literatura brasileira.
As dificuldades de leitura dos clássicos não se resumem ao vocabulário de
uma outra época; deve-se levar em conta as inúmeras referências a outras
obras, uma estrutura narrativa diferente daquela encontrada na literatura de entretenimento, marcas de estilo pessoal, que fazem dos clássicos obras
de arte. A proposta da escritora é manter apenas o enredo e isso não faz
de obra alguma um clássico. Todos os temas já foram contados, recontados,
mas a forma como são contados é que faz de uma obra algo especial. José
continuará sem ler Machado de Assis: terá lido Patrícia Secco, que não é
um mestre da literatura brasileira.
O que Secco traz de novidade é o público a que se destina sua
publicação, uma vez que as adaptações normalmente se destinam a leitores
em formação e os adultos deveriam ser leitores constituídos . Ou seja,
propor a leitura das adaptações dos clássicos brasileiros para adultos é
reconhecer que há grandes problemas no processo de formação do leitor
no Brasil. É admitir que a Escola está falhando na educação literária ,
proposta nos PCNs.
Deixando de lado a questão da adaptação de obras nacionais para
adultos, a preocupação se volta para os leitores em formação , que têm (ou
deveriam ter) na Escola o lugar para que se formem.
Para esse público,de crianças e jovens, são válidas as adaptações?
Elas os levarão à leitura do texto original, mesmo que traduzido? É o que
se pretende começar a discutir.
OS CLÁSSICOS
Tradicionalmente associados à alta cultura, os clássicos são aqueles
que servem de modelo, que são paradigmas para escritores e críticos, mas
também “são livros que exercem uma influência particular quando se
impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da
memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.”
(CALVINO, 2007, p.10),por isso, os clássicos formam o cânone, o conjunto
de obras que se imortalizaram na História da Literatura. O contato com
os clássicos contribui para a formação do indivíduo. É a partir dessa certeza
que se discute a leitura dessas obras por crianças e jovens e a pertinência
das adaptações que são feitas, com a intenção de facilitar a leitura.
A partir dessa ideia, pretende-se apresentar algumas das releituras
dos clássicos feitas por dois escritores brasileiros- Monteiro Lobato e
Pedro Bandeira-, que serão analisadas em sua relação com a obra original,
a partir de que se discute a validade da leitura dessas obras em sala de aula,
como ponte para leitura dos clássicos .
No caminho dos quase cem anos que separam os dois autores, serão
feitas rápidas reflexões sobre outras adaptações que existem no Brasil,
como aquelas feitas pelas editoras Scipione e Ática e as adaptações em
forma de quadrinhos.
O texto se constrói a partir dos pressupostos da Estética da Recepção, envolvendo principalmente os conceitos de horizonte de expectativa e de
repertório, como suporte para as discussões sobre a validade das adaptações.
O corpus escolhido é formado pelas obras Dom Quixote das crianças,A
marca de uma lágrima e Agora estou sozinha. A primeira, uma adaptação da
obra de Cervantes, feita por Monteiro Lobato; a segunda, uma releitura
de Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, e a terceira, uma releitura de
Hamlet, sendo que as duas últimas foram feitas por Pedro Bandeira.
AS ADAPTAÇÕES NO BRASIL DE MONTEIRO LOBATO
Por volta de 1880, Carl Jensen, jornalista e professor, um alemão
que se mudou para o Brasil ainda jovem, traduziu obras como Robson Crusoé,
As Aventuras de Gulliver, As aventuras do celebérrimo barão de Münchhausen e
Dom Quixote, destinando-as aos jovens leitores. Naquela época, a facilitação
da vida do leitor não era o foco principal dos autores, como indicam os
textos escritos por Olavo Bilac, Coelho Neto ou Júlia Lopes de Almeida,
alguns dos nomes pioneiros na produção de livros infantis no Brasil. Isso
provavelmente se deve ao fato de que o conceito de leitor, assim como o
de criança, no início do século XX, eram diferentes dos de hoje.
Cerca de cinqüenta anos depois das traduções de Jensen, em 1936,
Monteiro Lobato lançou uma adaptação da obra de Cervantes: Dom Quixote
das crianças. O projeto era antigo, pois em carta a seu amigo Rangel, em
1925, Lobato já falava em uma possível tradução da obra.
Para Lobato, a tradução não devia ser ao pé da letra, antes, o tradutor
deveria ter a “liberdade de melhorar o original” (ALMEIDA PRADO, in
LAJOLO; CECCANTINI, 2008, p. 328, a), por isso, Dom Quixote das crianças
se constrói em uma linguagem abrasileirada, facilitada para a compreensão
infantil. Na história, o livro antigo é encontrado por Emília, que solicita a
leitura. Mas, quando Dona Benta começa a ler, a reação da boneca ao estilo
da tradução feita em Portugal, há muitos anos, pelos Viscondes de Castilho
e de Azevedo, leva a senhora a optar pela adaptação:
- Meus filhos- disse Dona Benta- esta obra está escrita em alto estilo,
rico de todas as perfeições e sutilezas de forma, razão pela qual se
tornou clássica. Mas como vocês não têm a necessária cultura para
compreender as belezas da forma literária, em vez de ler vou contar a
história com palavras minhas. (LOBATO, 1968, p.12, a)
Desse modo, Dona Benta passa a ser a narradora das histórias de
Dom Quixote, que causam reações nos ouvintes. Recepção e obra se
alternam com os acontecimentos vividos no Sítio e, durante a leitura, Dona
Benta, procurando facilitar a compreensão das crianças, associa ao texto informações sobre o momento em que a obra foi escrita, referências a
outros escritores e responde às perguntas das crianças sobre o que elas
não entendem, tudo isso em linguagem bem acessível.
A obra de Cervantes está contida no texto lobateano, com o qual se
mistura. Os episódios são selecionados, dando-se preferência aos aspectos
cômicos da obra, que além de estar em linguagem simples, é resumida e,
portanto, mais adequada ao leitor infantil que aqueles dois grossos volumes
citados por Emília. Trata-se, pois, de uma obra que pretende seduzir
o leitor e que pode ser vista como parte do projeto lobateano de formação
de leitores.
Enquanto ouvem as histórias de Dona Benta, quando uma das
crianças não entende alguma palavra, dirige-se a ela, que explica. Como se
vê no trecho a seguir:
- Que é viseira?- perguntou Narizinho.
- Viseira é a parte da armadura que recobre o rosto do cavaleiro. Uma
parte móvel, que se ergue quando o enlatado deseja mostrar a cara,
falar ou comer. Ergueu a viseira e disse: (LOBATO, p.20, b)
Nota-se que Dona Benta para por instantes a história para explicar
à neta o significado da palavra, mas logo depois a continua, emendando o
enredo de Cervantes com as curiosidades infantis. Nesse sentido é que a
obra se torna antropofágica, como afirma Almeida Prado, no texto contido
no livro Monteiro lobato livro a livro, organizado por Marisa Lajolo e João
Ceccantini, pois os textos se misturaram: não é um Dom Quixote de
Cervantes nem de Lobato, tornar-se um outro, o das crianças, que
participam da construção, com perguntas, comentários, reflexões.
Ao permitir que as crianças façam perguntas e tenham as respostas,
Lobato não só concretiza seu ideal de Escola, em que as crianças não são
vistas como meros depósitos de conhecimento, mas como seres capazes
de construí-los , como também valoriza a criação de um repertório que
permita ao leitor a compreensão do texto. Narizinho, Pedrinho e Emília
são os leitores que necessitam de um mediador para que compreendam o
texto.
O repertório de um leitor é composto por suas experiências
anteriores, incluindo seus conhecimentos variados, como o literário e o
de mundo. É ele que permite às pessoas leituras diferentes de um mesmo
texto, pois cada um, na hora de ler, irá buscar em seu repertório as
informações de que dispõe e que o ajudarão a dar sentido ao que leu.
Como cada sujeito tem experiências diferentes, os espaços em branco do
texto darão a possibilidade de que cada um o complete de uma forma.
Ao introduzir na narrativa as informações fornecidas aos netos de
Dona Benta, Lobato as estende também aos leitores mirins de seu tempo,
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que, assim como os personagens do Sítio, não teriam condições de entender
a obra de Cervantes sem a mediação de um adulto. Não se pode esquecer
que Dom Quixote, já naquela época, fora escrito há séculos e, como
sabemos, a leitura de uma obra em um tempo muito distante de sua
produção pode levar o leitor a fazer uma leitura muito diferente daquela
feita à época em que o texto foi escrito. Além disso, o leitor modelo do
texto de Cervantes não era, certamente, a criança, para a qual Lobato e
Jansen endereçavam suas obras. Sem as explicações fornecidas por Dona
Benta, o texto seria apenas parcialmente compreendido pelos leitores,
tanto os do Sítio quanto os leitores de Lobato. Ainda hoje essas informações
contribuem não só para a compreensão das crianças , mas também de
alguns adultos , cujo repertório não contemple conhecimentos sobre a
cultura espanhola e ou sobre a obra de Cervantes.
Como era comum no início do século XX, Lobato também escrevia
pensando na Escola, tanto que Narizinho Arrebitado, o primeiro livro voltado
para o público infantil, tem como subtítulo “Segundo livro de Leitura”.
Lobato era adepto do movimento da Escola Nova, que no início do século
XX teve destaque no Brasil, incentivado principalmente por Anísio Teixeira
e Lourenço Filho. Por isso, tinha uma concepção de escola diferente da
que prevalecia no Brasil daquela época,pois valorizava o prazer e o
desenvolvimento da imaginação. Foi por causa dessa concepção que ele
procurou dar a seus livros um formato mais acessível ao leitor de seu
tempo, mesmo contrariando as tendências vigentes, que tinham apenas a
intenção de informar, de desenvolver o nacionalismo nas crianças e
privilegiavam a variante culta da língua nacional, condenando a presença da
oralidade nos textos escritos para crianças.
Ao assumir essa atitude, Lobato interferiu no horizonte de
expectativas de sua época. O horizonte de expectativas é responsável pela
primeira reação do leitor à obra, pois se encontra na consciência individual
como um saber construído socialmente e de acordo com o código de
normas estéticas e ideológicas de uma época. Naquela época, as obras
escritas para crianças eram muito diferentes das que ele escreveu, por isso
seus livros causaram reações diversas, que foram da aceitação e adoção em
escolas de alguns estados até a proposta da queima de livros, como ocorreu
em São Paulo, com a edição de Peter Pan, outra adaptação feita pelo escritor.
Se pensarmos nas obras de Júlia Lopes de Almeida e de Olavo Bilac,
por exemplo, perceberemos o tom do adulto, que se dispõe a transmitir
valores aos leitores, como caridade, patriotismo, obediência, tudo muito
diferente das crianças encontradas na obra lobateana, principalmente Emília,
cuja impertinência incomodava aos educadores da época.
A proposta de Lobato, a despeito das reações negativas, solidificou-se
e transformou-se em um novo paradigma. Segundo as teses
desenvolvidas por Jaus em sua conferência de 1969, que são consideradas o marco inicial da Estética da Recepção, as grandes obras serão aquelas que
conseguirem provocar o leitor de todas as épocas, permitindo novas leituras
em cada momento histórico. Foi exatamente o que fez Lobato, ao
aproximar o texto clássico do público infantil, pois sua obra, ainda hoje,
pode ser lida, compreendida e admirada pela criança brasileira, que também
se beneficiará das informações dadas por Dona Benta. Além disso, as
adaptações de obras clássicas para crianças, no Brasil, tornaram-se uma
opção das editoras, que investem, cada vez mais, em releituras e adaptações
livres dos clássicos, tanto para crianças quanto para jovens.
Nesse contexto dialógico entre o texto clássico e o juvenil é que se
destaca o nome de Pedro Bandeira, principalmente pela aceitação que suas
obras têm junto aos jovens, e que será o outro autor cuja obra serve de
reflexão sobre a validade ou não da leitura das adaptações em sala de aula.
O FINAL DO SÉCULO XX E OS CLÁSSICOS
A leitura dos clássicos, a cada dia, perde espaço na sociedade pós-moderna.
A Escola já não é mais o lugar onde jovens terão contato com o
clássico ,embora se reconheça a importância de sua leitura. Há uma
preocupaçãoem criar o gosto pela leitura, que arrasta professores e alunos
em direção a uma armadilha editorial de, cotidianamente, apresentar textos
mais fáceis, que pouco exigem do leitor, para que se crie o tal “hábito de
leitura”.
Além de entender que hábitos são atitudes mecânicas e que ler não
pode ser visto assim, acredito que essa ditadura da facilidade está
interferindo muito no processo de formação de nossos alunos, cujo
repertório de leitura se limita, quase que totalmente, a coleções pertinentes
à literatura de entretenimento. Nada contra a literatura de entretenimento,
desde que ela seja parte do processo e não a finalidade dele, como vem
acontecendo em nossas escolas.
Quando, em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases 5692 decretou a leitura
obrigatória de autores brasileiros nas escolas, deu-se o que costumam
chamar de o “boom” da literatura infantil no Brasil. Muitos autores viram
na Escola um meio de ganhar dinheiro com a literatura e, várias foram as
tendências que se pode identificar no período: umas voltadas para o
estético, em que os autores mantém o compromisso com a “arte da palavra”,
embora seus textos tivessem a criança ou o jovem com leitores específicos,
como o caso de Lygia Bojunga Nunes, Bartolomeu Campos Queirós, Ana
Maria Machado, Marina Colasanti; outras marcadas pelo utilitário, como
várias obras de Ruth Rocha; umas mais pedagógicas que outras; em quase
todas, a proposta da facilitação da leitura.
Atendendo ao novo mercado voltado para a Escola e suas necessidades, as editoras criaram séries que pudessem ser “adotadas” na
Escola. Em 1973 a Ática criou a Série Vaga-lume, composta, a princípio,
por textos já consagrados pela crítica, como A ilha perdida, de Maria José
Dupré, O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida, Cem noites
tapuias, de Ofélia e Narbal Fontes, e outros que fizeram parte da lista na
primeira década de existência da série;obras resgatadas e relançadas para
leitores juvenis.
Somente na década de 80 Marcos Rey seria convidado
para criar textos especificamente para a coleção, como foi o caso de O
mistério do cinco estrelas, divisor de águas da série, em que elementos como
o mistério e o romance se misturam, retomando o modelo de romance
policial juvenil, cujo detetive é um adolescente, consagrado por João Carlos
Marinho, em O gênio do crime, e que se tornaria a grande marca da série
Vaga-lume.
O mistério e o suspense são dois elementos constantes na
literatura juvenil, encontrados em quase todas as obras destinadas a esse
público.
Na tendência de livros para jovens, a Scipione, em 1984, criou a
série Reencontro, que, como afirma a própria editora, é “formada pelos
maiores clássicos da literatura universal recontados por escritores de
talento, numa linguagem acessível e agradável” (http://www.scipione.com.br/
conhecendoascipione.asp?bt=1Acesso em 15 de maio de 2014) .
Hoje, há mais de setenta títulos, adaptações feitas por autores
renomados, como Ana Maria Machado, Carlos Heitor Cony e outros
tantos, que ainda compõem a série. As obras originais são lidas e adaptadas,
sempre em prosa, para uma linguagem acessível aos jovens brasileiros
dos séculos XX e XXI. Dessa maneira, Sonho de uma noite de verão, de
Shakespeare, ganhou versão em prosa, como aconteceu também com Otelo,
tragédia do mesmo autor inglês. São mantidos, além do título, personagens
e enredo, trazendo ao jovem leitor a impressão de que ele está, realmente,
lendo a obra dos grandes escritores, quando na verdade o texto lido não é
mais que uma paráfrase do original, em que as idéias principais do texto
são mantidas, embora a linguagem e o gênero sejam modificados e outras
palavras sejam utilizadas para manter o enredo.
Um cotejo cuidadoso,
entre o original e o novo texto revela que a facilitação tão explícita na
linguagem deixa também de lado elementos culturais, marcas da época
em que o texto foi escrito, e que o tornaram “clássico”, já que os temas se
repetem na literatura das várias épocas, sem que seja garantia de
permanência. Isso acontece porque a proposta inicial da série não é traduzir
o original, mas parafraseá-lo, para torná-lo acessível ao leitor jovem.
Dom Quixote, o Cavaleiro da triste figura, foi adaptado por José Angeli,
e começa da seguinte forma:
Numa pequena aldeia da Mancha, província espanhola, vivia um
fidalgo. Homem de costumes rigorosos e decadente fortuna. Dom Quesada ou Quixano- nunca ninguém soube ao certo- vivia da
exploração de suas propriedades, que mal lhe rendiam para manter
uma simples aparência de abastança. Homem forte, altivo, nervoso,
cultivava a caça como esporte e forma de abastecer melhor sua
mesa.(ANGELI, 1990, p.5)
Como se viu na obra de Lobato, Dom Quixote, texto de Cervantes,
inicia de forma bem diferente, a começar pelo título do primeiro capítulo,
no qual se lê “ Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo Dom
Quixote de La Mancha” , marca da literatura do início do século XVII
(Dom Quixote foi publicado em 1605) em oposição a “Aqui apresentamos
Dom Quixote de La Mancha” encontrado na adaptação. A referência à
lança em cabido e ao galgo corredor que tanto incomodou à Emília ,
simplesmente desaparece, deixando de lado um texto que já se tornou
sinônimo de Dom Quixote. A tradução dos portugueses Viscondes de
Castilho e Azevedo não faz referência ao fato de o fidalgo ter que caçar
para comer. Ao contrário, há apenas uma citação “amigo da caça”. O que se
encontra na adaptação faz parte da leitura do adaptador, que altera o texto
de acordo com o que acha que deva causar maior efeito no leitor.
Essa coleção foi estendida também para o público infantil e hoje já
existe a Reencontro Infantil, em que a ilustração acompanha o texto adaptado
para o público a que se destina, ou seja, crianças a partir dos nove anos,
como nos indica a contracapa.
Outras editoras lançaram adaptações dos clássicos para jovens,depois
da Scipione, como fez a Ática, ao criar a coleção Descobrindo os clássicos. Nela
os autores, também consagrados pela crítica brasileira, não fazem apenas
uma releitura da obra clássica; criam uma outra história e dentro dela
encaixam o texto clássico , principalmente os de língua portuguesa. Álvaro
Cardoso Gomes, por exemplo, criou a narrativa Por mares há muitos navegados,
que já traz no título o diálogo com a obra de Camões e, em seu interior,
trechos de Os lusíadas. Os dois textos são apresentados separadamente,
alternando-se, o que traz ao leitor a possibilidade de ter contato com o
original e com a paráfrase, que explica ao leitor do século XXI aquilo que
seu repertório não lhe permite entender. Por exemplo:
Ele continuou a explicar:
- ... depois, vem a narração dos feitos de Vasco da Gama, ou seja, a
viagem até a Índia, mesclada a um grande resumo da história de
Portugal, que acontece entre o terceiro e quarto Cantos. E, no final,
como não poderia deixar de ser, vem o Epílogo, que, ao mesmo tempo
que exalta a grandeza de Portugal, contém um crítico melancólico,
quando o Camões se põe a lamentar a avidez dos portugueses, que
desprezam a arte pela cobiça.
E o Luís Alberto declamou: Não mais, Musa, não mais que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e da rudeza
De uma austera, apagada e vil tristeza.
O favor com que mais se acende o engenho/não no dá a pátria: Camões
quer dizer que a pátria não está interessada no engenho (o talento
poético), porque as pessoas na época tinham se voltado apenas para a
cobiça. (GOMES, 2002, p.26-27)
A primeira parte da citação, que vai desde “ele continuou a explicar”
até “Luís Alberto declamou” faz parte da história de moldura, em que
Luiz Alberto é o professor de Português que prepara Dedé para a
prova. Por isso ele faz um resumo da epopeia, depois de ter explicado
o que é uma epopeia. Na segunda parte , em itálico, temos o texto
camoniano, que começou a ser explicado pelo professor e irá ganhar
mais ênfase na explicação que aparece em fonte menor, e traz o
significado das palavras desconhecidas pelo leitor jovem. Desta forma
o novo texto, Por mares há muito navegados, se constrói em vários
níveis, que se complementam para propiciar ao leitor o contato com
o clássico português e a compreensão dele.
O mesmo acontece com O mistério da casa verde, adaptação do conto
machadiano O Alienista, que Patrícia Secco quer reescrever, com O Cortiço,
que se transforma em Dez dias de cortiço e muitos outros clássicos brasileiros.
Assim como na obra de Lobato, nessa coleção há sempre um narrador
que conta a história para alguém e faz comentários sobre o texto original,
auxiliando na compreensão do texto e do desenvolvimento do enredo.
No entanto, o texto original não é simplificado, mas transposto.
Nota-se a preocupação com a formação do leitor que, aos poucos,
terá contato com o texto clássico, sem que a leitura lhe seja penosa .
Trabalha-se o repertório, sem que o leitor se dê conta, pois são fornecidas
informações para que ele compreenda a leitura, como contextualização,
significação das palavras, informações sobre o gênero e sobre o autor. Ele
não fica com a sensação de que leu a obra clássica na íntegra, pois o novo
texto traz os recortes bem claros, inclusive com mudança de fonte para o
itálico, quando é apresentado o texto clássico.
Essa leitura, se trabalhada por um professor que funcione como
mediador de leitura, nos anos finais do Ensino Fundamental, pode ser
uma porta de entrada para a leitura dos clássicos na íntegra, já que permite
um primeiro contato com o texto integral, que será entendido pelo leitor.
Uma pesquisa rápida feita na Internet, no entanto, mostrou que a leitura
dessas obras tem sido feita por alunos do Ensino Médio, ou seja, a coleção
passou a ser lida no lugar dos clássicos. Nota-se que, mais uma vez, a
ditadura da facilidade vem interferir no processo de formação de nossos
leitores, que parecem estar destinados a ler só adaptações.
Ana Maria Machado, em sua obra Como e por que ler os clássicos desde
cedo defende a leitura das adaptações como uma porta de entrada para a
leitura do texto integral. Enfatiza a importância da leitura dos clássicos e,
citando sua própria experiência com a leitura de Dom Quixote das crianças,
afirma :
...não é necessário que a primeira leitura seja um mergulho nos textos
originais. Talvez seja até desejável que não o seja, dependendo da
idade e da maturidade do leitor. Mas creio que se deve propiciar é a
oportunidade de um primeiro encontro. Na esperança de que possa
ser sedutor, atraente, tentador. (...)possa equivaler a um convite para a
posterior exploração de um território muito rico, já então na fase das
leituras por conta própria.(MACHADO, 2002, p.12/13)
Observe-se que a proposta da autora parece ser semelhante à de
Lobato : a intenção final é a leitura do texto original, não a substituição pela
adaptação. Seria necessário que essa idéia fosse difundida entre os
professores e que o estigma de texto clássico como texto “chato” fosse
deixado de lado. Infelizmente, muitos são os professores que concordam
com o senso comum, embora devessem desempenhar o papel de
mediadores de leitura.
Há ainda propostas de adaptações do texto clássico para os quadrinhos,
como faz a Jorge Zahar Editor, em cujo catálogo podem ser encontradas
obras como Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, adaptadas por
Stéphanr Heut, encarregada do texto e das ilustrações.
Há várias tendências de adaptações para quadrinhos. Algumas
apresentam as imagens associadas a um texto simplificado; outras como na
adaptação da Ática para o texto de Aluísio Azevedo, O cortiço, trazem trechos
do texto original e trechos adaptados associados à imagem. No caso de O
cortiço, as imagens são de Rodrigo Rosa e a seleção e adaptação do texto
foram feitas por Ivan Jef.
Nessa obra, nota-se que mesmo as imagens
trabalham mais com a intenção de sugerir que de descrever, contrariando
aquilo que é peculiar ao Naturalismo. Principalmente as cenas marcadas
pela presença da sexualidade são amenizadas, de modo que o jovem possa
entendê-las, mas não vê-las. Assim perde-se não só parte do estilo pessoal
como também elementos característicos do estilo de época, neste caso, a
descrição minuciosa, empobrecendo o texto e tirando dele parte importante
daquilo que o fez clássico.
A obra de Machado de Assis parece ser a mais escolhida para esse
tipo de adaptação. A editora Escala Nacional fez uma adaptação do conto
Uns braços, em que o roteiro e os desenhos são de Francisco S. Vilachã.
Nesta obra, são selecionados trechos do texto machadiano, que se faz
acompanhar dos desenhos. A voz do narrador permanece também,
deixando a obra mais perto do original, atenuado pela presença dos
desenhos, dessa outra linguagem mais próxima dos jovens.
ENFIM, PEDRO BANDEIRA
Pedro Bandeira, no contexto das relações entre clássicos e jovens,
apresenta uma outra proposta, que embora tenha como base o cânone,
acaba por distanciar-se dele, mais que todas as outras. Em 1985, com A
marca de uma lágrima, Bandeira trouxe uma proposta de releitura de um
clássico, em que o paratexto, em forma de posfácio intitulado Autor e Obra,
é a chave para desvendar o diálogo entre as obras:
Cyrano de Bergerac! A história do espadachim feio e narigudo que
escreve cartas de amor para sua amada Roxane em nome do seu rival,
o lindo Cristiano, me impressiona desde a adolescência, em Santos
(...) Em São Paulo, desde 1961, durante meus anos como ator de teatro,
eu pensava na montagem da peça de Edmond Rostand, mas sentia
que a linguagfem rebuscada do autor impediria que toda a punjança
do enredo fosse compreendida pelas platéias brasileiras. Desde então,
a idéia de adaptar Cyrano de Bergerac me acompanhou.
(...) Decidi então que esta história de amor seria a adaptação moderna
e brasileira de Cyrano de Bergerac. E o meu Cyrano transformou-se
em Isabel, uma menina de 14 anos, criativa, inteligente, maravilhosa,
mas cheia de problemas.(BANDEIRA, 1986, p.95)
Embora Pedro Bandeira fale em adaptação, somente se o leitor
procurar, ao final do livro, essa explicação, fará alguma relação com o texto
de Ronstand.
O enredo da peça é transportado para os dias atuais e os papeis são
invertidos. Ou seja, a menina é aquela que escreve poesia e que tem
problemas de auto estima. O nome , como se viu nas palavras de Bandeira,
é alterado, pois ela poderia se chamar Cristina, mas é batizada de Isabel,
distanciando ainda mais a menina do protagonista inicial, embora os nomes
de Cristiano e Roxana se mantenham, em outros personagens. Além disso,
há um caso de suspense, pois ocorre uma morte na Escola, onde a narrativa
se passa, e as crianças são envolvidas nessa nova trama.
Pedro Bandeira se apropria da ideia inicial da peça para criar uma
obra totalmente diferente, que obedece aos moldes das narrativas juvenis, marcadas pelo duplo do leitor, com personagens da sua idade, em que o
romance se mistura ao mistério; os fatos ocorrem no ambiente comum
ao leitor- nesse caso, a escola- e o final traz o encontro entre os jovens, e
esses não são o mesmo casal da obra de Rostand, pois Isabel acaba com
Fernando, que não havia entrado na história de Cyrano de Bergerac.
Apesar do imenso sucesso da obra– já foram feitas mais de oitenta
edições e também já existe como livro digital-e do fato de ser uma narrativa
atraente para os jovens, não se pode dizer que a proposta de leitura como
ponte para o clássico se realize em A marca de uma lágrima. Para que isso
aconteça, é necessária, mais do que nunca, a interferência do professor,
que deverá fazer a ponte com o clássico, trazendo-o para o diálogo com a
obra de Bandeira. Os alunos, de modo geral, não leem o paratexto, acham
que só a leitura do texto principal importa. Como não têm em seu
repertório a leitura do clássico, sozinhos não chegarão ao texto gerador.
O mesmo acontece com outro livro de Bandeira: Agora estou sozinha,
em que o autor, também no paratexto, explica que o nome da protagonista
– Telmah – é o nome do personagem de Shakespeare, Hamlet, ao contrário,
e que ele resolveu “recriar este tema emocionante e fantasmagórico, desta
vez não com um príncipe, mas com uma menina, a minha Telmah, meu
Hamlet às avessas”. (BANDEIRA, 1987, p.87).
O termo recriação mostra-se mais adequado ao processo de criação
desse escritor que, como se pode notar, optou por destacar as personagens
femininas em seu texto, talvez pela situação que o feminino ocupe no
novo contexto, em que se insere sua obra. A preocupação com a
caracterização do texto voltado para jovens também faz com que o encontro
de Hamlet com o espírito de seu pai seja substituído pela “brincadeira do
copo”, que esteve tão em moda na década de oitenta, entre os jovens.
Assim, é o copo que soletra:
- Devo chamá-la de quê? Espírito? Fantasma? Mãe?
OUVE
TELMAH
VINGANÇA
Uma espécie de torpor começou em suas pernas e subiu pelo corpo da menina.
- Vingança? O que é isso? O que quer dizer com isso?
PRECISO
DESCANSAR
- Diga! Oh, vamos, diga! Que vingança é essa?
FUI
ASSASSINADA ( BANDEIRA,1987,p.19)
A escolha da fonte em caixa alta funciona como um diferencial para
as vozes e destaca o movimento do copo, que parece soletrar as palavras.
Por isso também a escolha de colocá-las em níveis diferentes, mesmo aquelas que formam frases.
Há outras alterações,além dessas, como a presença de Tiago,
namorado de Telmah que fica a seu lado durante toda a investigação e que,
ao contrário de Ofélia, permanece vivo
Ao final, a madrasta de Telmah morre envenenada, também com
vinho, como acontece com Cláudio, em Hamlet, mas a menina e o pai
sobrevivem.
Nota-se, pois, que o autor faz alterações que agradem ao
público juvenil, que, como se sabe, dá preferência ao final feliz e à presença
do romance sentimental, mesclado ao mistério.
Dessa forma, Pedro Bandeira necessita da intervenção do professor,
mais uma vez, para que se estabeleça o diálogo entre os dois textos, sem o
que sua releitura será lida sem que se perceba a intertextualidade e sem
que se cumpra a proposta de incentivo à leitura dos clássicos, tamanha a
independência que deu a sua obra.
Não há, na obra de Bandeira, a preocupação com a formação do
repertório do leitor, que ao final da leitura continuará a ignorar a existência
do texto clássico. Também no que diz respeito ao horizonte de expectativas,
o texto de Pedro Bandeira apenas confirma o que já existe, sem propor
nada de novo, sem promover, no leitor, mudanças de paradigma, já que se
adéqua aos modelos vigentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão sobre a validade da adaptação dos clássicos para crianças
e jovens está longe de acabar. Em escolas, cursos, palestras basta tocar no
assunto para que os discursos se inflamem entre os grupos dos pró e dos
contra.
É o que tem ocorrido com a proposta de Patrícia Secco, que com a
capa de novidade pretende fazer aquilo que já é feito desde o século XIX
no Brasil, que é substituir o clássico por um texto pasteurizado, que não
ajuda ao leitor a progredir em seu processo de formação e dá a falsa sensação
de conhecimento do clássico.
O fato é que o tema deve ser tratado com atenção. Se a intenção é,
como quer Ana Maria Machado, fazer da leitura das adaptações uma ponte
para a leitura dos clássicos, a figura do professor como mediador de leitura
torna-se indispensável.
Parece claro que, sozinhos, poucos serão os leitores que buscarão o
texto original para o cotejo, na época em que estão fazendo a leitura da
adaptação. Esta terá, então, a finalidade de “plantar” o texto na memória
de leitura da criança que, quando adulto, preparado para o contato com o
original, poderá realizar-se enquanto leitor crítico, capaz de entrar nos
bosques clássicos.
Também ficou claro, no percurso deste artigo, que há grandes
diferenças entre as obras que se propõem a adaptar os clássicos. Cabe,
portanto, mais uma vez, ao professor, a escolha da abordagem que fará,
do trabalho que desenvolverá com os alunos, a partir do texto escolhido.
Nesse sentido, a coleção Descobrindo os Clássicos, hoje, parece ser a
que mais propicia o cotejo entre o original e a adaptação, garantindo que o
leitor tenha acesso ao texto original.
Percebe-se a proposta de Lobato como ponto de partida e a
introdução do texto original como a perspectiva de uma leitura escolarizada,
que terá jovens como leitores, não mais crianças.
Constatou-se também que a proposta de Lobato de adaptar as obras
clássicas para o público infantojuvenil deu sementes no Brasil, onde há
várias propostas diferentes, que fazem a ligação entre o texto juvenil e o
clássico.
Finalmente, a obra de Pedro Bandeira merece atenção especial, se
vista como ponte com o texto clássico. Lidas por si só, as obras desse
autor têm sucesso garantido dentre os jovens, como indicam as inúmeras
comunidades encontradas no Orkut, site de relacionamento que fez enorme
sucesso no início dos anos 2000,onde jovens declararam sua preferência
pelos livros desse autor, além das inúmeras edições de seus títulos, que
ainda fazem sucesso entre os jovens.
No Facebook, o site de relacionamentos que hoje mobiliza jovens e
adultos, encontra-se uma página desse autor, com mais de sete mil e
seiscentas “curtidas”, o que equivaleria dizer aprovações dos internautas.
Foi dele que se retirou o seguinte comentário de uma admiradora :
”Pedro
Bandeira gostaria de deixar claro que leria até sua lista de supermercado!!!
o que seria da minha adolescência sem o livro a marca de uma
lagrima...”(Disponível em : https://www.facebook.com/pages/PedroBandeira/143664439032858?fref=ts.
Acesso em 15 /05/2014).
Ou seja, a
aprovação da obra aqui citada continua grande.
Vistas como ligação com o texto clássico, as obras de Bandeira são
as que mais exigem o empenho do professor, que deverá trazer o texto
original para sala, seja fisicamente, seja em outra linguagem, como o filme,
mas será sua a responsabilidade de apresentar o clássico ao aluno, que se
deixado só no caminho, não passará da leitura de entretenimento proposta
por Pedro Bandeira.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA PRADO, Amaya O. Dom Quixote das crianças e de Lobato. In: LAJOLO,
Marisa;CECCANTINI, João. Monteiro Lobato livro a livro: obra infantil. São Paulo: UNESP,
2008.p. 325- 338.
ANGELI, José. Dom Quixote: o cavaleiro da triste figura. (adaptação). São Paulo:
Scipione, 1990.
ASSIS, Machado. Uns Braços. Roteiro e desenhos de Francisco S. Vilachã.São Paulo:
Escala educacional, s/d.
BANDEIRA, Pedro. A marca de uma lágrima. São Paulo: Moderna, 1986.
BANDEIRA, Pedro. Agora estou sozinha. São Paulo: Moderna, 1987.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson Molin. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
GOMES, Álvaro Cardoso. Por mares há muito navegados. São Paulo: Ática, 2002.
LOBATO, Monteiro. Dom Quixote das crianças. São Paulo: Brasiliense, 1968.
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva,
2002.
http://www.scipione.com.br/conhecendoascipione.asp?bt=1- Acesso em 15 de maio
de 2014 .
Patricia Engel Secco defende projeto de ‘facilitar’ obra de Machado de Assis . Disponível
em http://www.estadao.com.br/noticias/arte-e-lazer,patricia-engel-secco-defendeprojeto-de-facilitar-obra-de-machado-de-assis,1164221,0.htm
. Acesso em 14/05/ 2014.
https://www.facebook.com/pages/Pedro-Bandeira/143664439032858?fref=ts. Acesso em
15/05/2014.
quinta-feira, 6 de julho de 2017
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