terça-feira, 17 de julho de 2012

Cinema infanto-juvenil nacional segue a fórmula estrangeira e lança cinco longas inspirados em livros
Carente dos filmes outrora bem-sucedidos de Renato Aragão e Xuxa, que há tempos deixaram de ser infalíveis nas bilheterias, o cinema infanto-juvenil brasileiro foi buscar na literatura um modo de se reinventar. Até 2013, cinco longas-metragens chegam às telas tendo como matéria-prima romances, contos e até poemas ligados à produção literária nacional sobre a infância e a adolescência. O pacote inclui best-sellers de várias épocas, passando por hits contemporâneos como "Ela disse, ele disse", de Thalita Rebouças; fenômenos dos anos 1980 como "Corda bamba", de Lygia Bojunga, e clássicos como "O meu pé de laranja lima" (1968), de José Mauro de Vasconcelos (1920-1984). E já está engatilhada para 2014 a versão animada dos poemas de "A arca de Noé", de Vinicius de Moraes (1913-1980), dirigida por Sérgio Machado e com produção de Walter Salles. Paralelamente, dois textos teatrais célebres do imaginário mirim ensaiam uma volta às telas: "Pluft, o fantasminha", de Maria Clara Machado, e "Os saltimbancos", a partir da versão musical de Chico Buarque. "A literatura infanto-juvenil dá ao cinema a chance de oferecer um entretenimento mais consistente a uma massa de jovens espectadores que pode se tornar o público cativo de nossos filmes amanhã", explica a produtora Sara Silveira, que deve tirar do papel o livro "O escaravelho do diabo", baseado no best-seller de Lúcia Machado de Almeida. Andamento O projeto de "O escaravelho do diabo" ilustra a diversidade dessa fornada de filmes para a geração dente de leite, que resgatou até a obra de Fernando Sabino (1923-2004). O autor volta a mobilizar a classe cinematográfica a partir de seu livro mais famoso sobre o universo infanto-juvenil: "O menino no espelho". Neste momento, em Cataguases, o diretor Guilherme Fiúza Zenha roda uma adaptação do romance, que narra as diabruras do pequeno Fernando, personagem principal do longa, confiado a Lino Facioli, um brasileirinho de 11 anos radicado em Londres, que atuou na série "Game of thrones". "Desde os anos 1980, a alternativa para fazer filmes infantis no Brasil se resume a Xuxa ou Didi, com raras exceções de qualidade que marcaram época, como ´A dança dos bonecos´, de Helvécio Ratton. Mas no universo de Sabino há um manancial de histórias escritas com uma simplicidade de garoto, numa prosa sem rendinha e sem babado, que atrai as crianças", diz Fiúza Zenha. Cenário de "O menino no espelho", Cataguases também serviu de locação para a nova versão de "O meu pé de laranja lima", romance lançado em 1968 e traduzido para 20 idiomas, que fez do escritor José Mauro de Vasconcelos um campeão de vendas. Prevista para chegar às telas em 14 de dezembro, a adaptação das aventuras do pequeno Zezé (vivido por João Guilherme de Ávila) e seu amigo Portuga (José de Abreu) foi rodada em 2010 por Marcos Bernstein, roteirista de "Central do Brasil" (1998) e realizador do premiado "O outro lado da rua" (2004). Bernstein concebeu o filme para ir além das plateias mirins, abordando os dilemas do fim da infância. "Há muitas obras literárias infanto-juvenis que fizeram e fazem parte da vida de uma quantidade enorme de potenciais espectadores, crianças e adultos, mas que não são levadas às telas. ´O meu pé de laranja lima´ foi um enorme sucesso em sua versão cinematográfica da década de 1970 (dirigida por Aurélio Teixeira), e a gente espera que haja espaço para nossa nova interpretação dessa obra", diz Bernstein. Também está previsto para estrear neste ano, em outubro, o filme ´Corda bamba - História de uma menina equilibrista´, de Eduardo Goldenstein, que leva às telas o universo circense pela ótica da literatura de Lygia Bojunga. A produção, que teve uma primeira exibição pública no Cine PE, em abril, acompanha os esforços de Maria (Bia Goldenstein, filha do diretor) para recuperar sua memória. "O filme fala da cura por meio do imaginário", diz Goldenstein. Como as novas gerações estão com os olhos mais voltados para a internet do que para as bibliotecas, a adaptação de "Ela disse, ele disse", de Thalita Rebouças, prevista para chegar às telas em 2013, vai usar a web como ferramenta para construir sua dramaturgia. O projeto vai usar um blog para se comunicar com os fãs de Thalita, extraindo das conversas o padrão dos diálogos do filme, centrado numa discussão sobre feminino e masculino pelo olhar dos jovens. Já a versão de "Pluft, o fantasminha", com direção de Rosane Svartman, vai usar atores para contar as peripécias do espectro com medo de gente. "Com clássicos é preciso ter carinho e cuidado. Maria Clara Machado, além da peça, escreveu um livro romanceando o texto, e alternamos os dois como guias nessa empreitada", diz Rosane.

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