quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre a leitura

Achei um texto sobre a leitura que me pareceu muito interessante, principalmente porque trata da leitura de poesia em sala de aula.
Repasso a vocês, com os devidos créditos:


ENDEREÇO: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/lei_a.php?t=019

Sobre o gosto da leitura na escola

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Miriam Mermelstein


A autora enumera alguns pressupostos para a introdução dos alunos no mundo da literatura, como a importância de ter um ambiente cultural no qual o livro esteja presente, de ampliar o repertório do aluno apresentando-o a uma diversidade de gêneros textuais, de ensinar a ler com prazer, de respeitar as escolhas dos jovens diante do universo desvelado pelos livros. Aborda ainda a estreita ligação entre o ler e o escrever, oferecendo sugestões de exercícios para o desbloqueio da escrita criativa.

O professor de literatura e crítico literário, C. F. Moisés, com quem estudo há 10 anos, na apresentação de seu livro “Poesia não é difícil” cita questões muito comuns de serem ouvidas na escola: ‘Como posso gostar de poesia se não a entendo?’ ‘E como entender sem gostar?’ (1)

Ficamos em um círculo vicioso, uma armadilha, afirma o autor, pois como saber se gostamos (ou não) se não a conhecemos? Aí entra o papel do professor educador e mediador da cultura em introduzir novos conteúdos e novas experiências no mundo do aluno.

Mas como? Eis a questão crucial. O objetivo deste texto é enumerar alguns pressupostos e algumas atividades de linguagem como idéias a serem adaptadas por vocês, professores, em seus planos.

Um pressuposto refere-se à significação de um ambiente cultural na formação do leitor. Desde muito pequenos, os alunos podem ‘ler’ textos, entendido o verbo de forma não literal: quando o professor lê para a classe, quando o aluno conta suas vivências na roda, quando o aluno ouve o colega contar ou descrever algo, quando o aluno ouve uma cantiga e sua letra, quando o aluno ‘lê’ ilustrações de um livro, quando ele tem acesso constante aos livros da sala ou da biblioteca, quando sabe que a leitura é uma atividade valorizada pelo professor.

Sabemos das dificuldades de obtenção e veiculação de livros nas escolas. Bibliotecas sem bibliotecários, livros não tombados e, portanto, não passíveis de circulação, mas sabemos também que existem outras formas de contornar essa situação. Saraus, pedidos em editoras, mutirões do livro, de organização das salas de leitura, feiras culturais, intercâmbios entre classes, cartas a autoridades competentes, etc. são alguns dos recursos que a escola deve utilizar para garantir o acesso do aluno ao livro.

Outro pressuposto refere-se ao grau de complexidade dos textos e das atividades com textos. Não devemos poupar os alunos de novos desafios. A função da escola é ensinar novidades, ampliar o repertório do aluno com exposição de maior diversidade de gêneros textuais. A dosagem e as exigências serão planejadas considerando que a formação do leitor é um processo de amadurecimento. Quanto antes começar, mais sentido fará na vida do aluno-leitor.

O livro é um objeto inserido em um contexto. Tem autoria, propósito, um tempo e um espaço delimitado (de criação e de circulação). Saber sobre o autor e sua época, conhecer suas condições de produção ajuda a inferir sobre outros tempos e outros espaços. Um exercício interessante é o de comparar textos literários de uma mesma temática, mesmo local e épocas diferentes, ou textos oriundos de culturas diferentes abordando o mesmo tema. “É a polifonia e a pluralidade contra o monólogo e a palavra autoritária”. (Sonia Kramer) (2) Intertextualidade. Por exemplo, mixar conteúdos da História com textos literários também é um recurso em que ambas as áreas ficam enriquecidas.

Sabemos que a escola tem um plano a cumprir e dentro dele as atividades de linguagem que devem ser realizadas e avaliadas. Ensinar a ler com prazer, a tirar proveito pessoal da leitura esbarra quase sempre na questão do número de alunos na sala para acompanhar e na dificuldade em avaliar objetivamente o aproveitamento, o prazer e a fruição. Mas sem paixão não avançamos. Principalmente quando pisamos na seara da literatura. Ensinar as características estruturais dos gêneros, as combinações lingüísticas possíveis em um texto, a organização das palavras, a comunicação de idéias não devem matar o prazer, não podem impedir que a leitura faça sentido pessoal e íntimo na vida do aluno.

Outro pressuposto é respeitar a escolha do aluno. Imaginem uma pequena cidade em que seus habitantes só conhecem comida brasileira. Vivem tranqüilos sem saber ou sem querer saber o que existe de diferente lá fora. Aí chega um grupo de imigrantes do Oriente trazendo seus costumes, temperos e especiarias. O que pode acontecer?

A – os dois grupos não se comunicarem.

B – os dois grupos trocarem suas especificidades e criarem um terceiro grupo.

C – os dois grupos aceitarem as mútuas contribuições, mas manterem sua identidade.

Esse é um exemplo do que pode acontecer com quem tem contato com o conhecimento. Transformação. Mas não acontece de imediato, nem uniformemente. É um processo e, como tal, é variável. Especificamente na arte, e dentro dela na literatura, esse processo tem finalidade de aumentar a autoconsciência humana. “A literatura é um autêntico e complexo exercício de vida, que se realiza com e na linguagem”. Nelly N. Coelho (3)

As possibilidades combinatórias são muitas e cada um responde de acordo com sua história, seus sentimentos e possibilidades.

Imaginem agora se todas as pessoas da mesma cidade só conhecessem histórias de saci e lobisomem. Chega na cidade o grupo do Oriente trazendo histórias de califas e odaliscas, nunca antes ouvidas.

Respondam: o que pode acontecer?

Essas analogias nos permitem entender o que muda quando o novo penetra em nosso mundo, as dificuldades de aceitação, o acréscimo que pode significar e a mudança que pode provocar.

Existe uma estreita relação entre produção de textos e leitura. Segundo Citelli (5), a escrita constante pode despertar maior interesse pela leitura. O pressuposto subjacente é que durante o percurso da escrita, os alunos tendem a se expressar cada vez melhor com menos clichês e mais identidade.

Nem tudo que nos apresentam ou que conhecemos tem unanimidade. Podemos falar em tendências, cada classe social, cada bairro, cada sala de aula têm características próprias pois vivem histórias de vida similares. Assim, o professor pode dizer: ‘- minha classe gosta de livros de aventuras’, ou ‘minha classe adora gibis’, como um bloco, mas devemos oferecer opções e respeitar as diferenças.

A leitura e a escrita são, portanto, construídas ao longo da vida escolar com respeito à individualidade, incentivo à narração pessoal, desejo de ser lido ou ouvido.

Os passos da escrita criativa:

1 – narrar e escrever tudo e sempre como uma rotina escolar.

2 – encontrar com o professor e colegas um assunto de interesse para escrever.

3 – começar com o que Lucy McCalkins (4) chama de ensaio, uma primeira escrita.

4 – esboço ou desenvolvimento da escrita. “Ponha no papel”, diz o escritor W. Faulkner, “aproveite a chance. Pode ser mau, mas este é o único modo pelo qual você poderá fazer algo realmente bom”.

5 – revisão – ver novamente, ler para os colegas e professor e reescrever em todas as etapas.

6 – edição – fazer o texto excrito circular, mesmo entre os colegas. Quem escreve, escreve para ser lido e, às vezes, a escola engaveta e só corrige os escritos e esquece do seu autor.

Vamos descrever alguns exemplos de exercícios de desbloqueio da escrita criativa:

1 – o professor sugere: “Abri a gaveta e encontrei...”. O aluno continua o texto escrevendo com: palavras que tenham 2 ou 3 sílabas, comecem com p, m ou s, rime, etc.

2 – o professor leva um texto com ausência de pontuação para os alunos lerem e pontuarem.

3 – o professor dá um poema e pede paráfrase com modificações do personagem, do cenário, etc.

4 – imaginar um personagem não humano, descrevê-lo com características humanas.

5 – pensar o que existe no mar e adjacências e escrever um período combinando palavras pelo parentesco sonoro, ex: areia com ceia, alga com algo.

6 – o professor escolhe algumas palavras, ex. – dia – e os alunos devem atribuir um sentido comum e um sentido figura à palavra.

7 – ad-verso: o professor dá dois versos de uma quadra e pede que os alunos emendem com outros dois versos de um outro assunto.

Esses exercícios podem ser trocados, completados em duplas, dramatizados, tec. Nessa etapa ainda não está em pauta o conteúdo, mas o desbloqueio da escrita.


Referências bibliográficas e sugestões de links:

1 – Poesia não é difícil, Moisés, Carlos Felipe ed. Artes e Ofícios 1996
2 – Diálogos com Bakhtin, Castro, Faraco, Tezza (org) cap. 7 Kramer, Sonia ed. UFPR 2001
3 – Literatura: arte, conhecimento e vida, Coelho, Nelly Novaes ed. Peirópolis 2000
4 – A arte de ensinar a escrever, Calkins, Lucy McCormick ed. Artmed 1986
5 – Produção e leitura de textos, v. 7, Citelli, Beatriz ed. Cortez 2001
6 – Trabalhando com poesia, Beraldo, Alda ed. Ática 1990
7 – Oficina de linguagem, Condemarín, M., Galdames, V., Medina, ª ed. Moderna 2002
8 – www.ulissestavares.com
9 – www.anamariamachado.com
10 – www.clubedoskaras.kit.net
11 – www.paralelos.org
12 – www.lyrics.com
13 – www.luispeaze.com
14 – www.snopes.com

*Miriam Mermelstein é pedagoga e autora de obras de Literatura Infantil, tendo ministrado as oficinas “A poesia em sala de aula” e “Abraçando a palavra” no CRE Mario Covas, durante o 1º semestre de 2004

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Outros achados

Ligaram para minha casa me solicitando uma entrevista sobre o machão, sobre as relações homem/mulher.
Conversamos, busquei exemplos na Literatura, mas, o que saiu publicado no caderno da Gazeta do povo foi o texto abaixo. Nada de Marina Colasanti, nada de Ivana Leite...
Como não pude controlar a publicação....

Escrito 3 de maio de 2010 at 9:14 por Equipe QIR
Quem é o homem com “H”
Categoria Cultura Geral, comportamento no comments
Enquanto o modelo tradicional do homem provedor e todo-poderoso é mandado para as cucuias, mudanças na nossa cultura fazem a turma da testosterona repensar o conceito de masculinidade

O homem contemporâneo não é um só, e essa diversidade tem sido negligenciada pelos estudiosos. É difícil encontrar antropólogos que topem falar do assunto, psicólogos que não vejam o homem pela perspectiva feminina e pesquisadores que indiquem estudos atuais a respeito. O que descobrimos ser unânime é a desorientação que hoje assombra o sexo masculino. “O próprio homem tende a querer ser um mistério. Ele não se abre como as mulheres, prefere manter segredo sobre quem realmente é e até participar de ambientes secretos e restritos”, diz o antropólogo Carlos Balhana, mestre em História Social do Brasil.


Antes, receber o carimbo de “macho” era mais fácil. Bastava fumar charuto, sentar à mesa e aguardar o melhor pedaço de carne, ser encrenqueiro e falar grosso. Dá para imaginar cabra mais macho que esse?

Depois vieram os conceitos de homossexual, metrossexual e, quando o clube masculino teve de assumi-los e respeitá-los, a coisa ficou mais complicada. Junte isso às consequências da luta feminina por novos espaços. Nada de farrear até de madrugada, nada de regalias em casa ou piadinhas preconceituosas. Assim como a mulher foi podada por muito tempo, o homem teve de experimentar as tesouradas, e agora resta observar essa nova forma de ser masculino, conceito que abrange múltiplas facetas.

Novos desafios

A professora doutora em Literatura da PUCPR Catia Toledo Mendonça lembra que hoje eles lidam com uma mulher que não conhecem, que exige um desempenho sexual, que não precisa aceitar as amantes ou recolher, sorridente, as cuecas recém-abandonadas pelo chão. “Hoje ele se vê em um relacionamento com alguém tão importante quanto ele. E está tendo de aprender a lidar com essa nova situação”, diz.

As mulheres também são apontadas pelo psicanalista Márcio Zanardini Vegas, mestre e doutorando em Psicologia, como influenciadoras dessas mudanças. “O homem ficou assustado com a mulher que não precisa dele. Ele não tem mais aquela bem-definida função de provedor e parece perdido”, diz.

Autoafirmação

Os pesquisadores que se propuseram a estudar o comportamento masculino (das décadas passadas) já diziam que a masculinidade é dependente da aprovação de outros homens, e que ela se define basicamente como “não ser como as mulheres”, conduta que pode levar a atitudes exageradamente masculinas.

A psicóloga Renate Michel, psicoterapeuta, mestre em edu­­­cação e professora da PUCPR, explica que são os ho­­­mens mais inseguros em relação à sua identidade que procuram se afirmar com estereótipos masculinos, ou seja, como machões, ogros, brutamontes… Eles são agressivos com outros homens ou com a própria família, ou trabalham demais, assumindo a postura de provedor (dizendo que o fazem pelo bem da sua família).

“O homem seguro de si não se sente ameaçado pelo homossexual, por exemplo. Já os inseguros sentem-se agredidos pela existência de gays ou bissexuais, estranham ‘este outro que é tão diferente de mim, e, no entanto, é homem’”, afirma Renate.

O (in)sucesso do machão
Pensando sobre o assunto desta reportagem, não pudemos deixar de refletir: a vitória do – considerado machão, homofóbico e mal-educado – Dourado, na última edição do reality show Big Brother Brasil, e o apoio que ele recebeu do público feminino seriam demonstrações de que o machão de antigamente está sendo valorizado em pleno século 21? Os especialistas dão o seu pitaco:

“Imagino que as mulheres tenham interesse por homens grosseirões como ele, pelo menos no campo da fantasia. Mas elas não bancam isso no dia a dia. A mulher não aguenta mais o machão, especialmente as que estão na faixa dos 30 anos.”

Márcio Zanardini Vegas, psicanalista, mestre e doutorando em Psicologia.

“Ainda existem mulheres que se colocam no papel antigo de submissão. Mulheres que vivem com homens grosseiros, com agressões físicas ou verbais, desde que sejam sustentadas. Elas se acomodam em uma relação quase que doentia porque acham que vai ser ruim ficar sozinha ou ir à luta. Talvez sejam essas as mulheres que apoiam o Dourado.”

Catia Toledo Mendonça, professora doutora em Literatura da PUCPR.

“Eu não entendo a vitória do Dourado, pois o tempo todo achei que o Kadu (terceiro colocado no programa) fosse ganhar. Mas, enquanto o Kadu era bonzinho, sabia de tudo e estava sempre bem, o outro se mostrou frágil em alguns momentos e falou de seus problemas.”

Bárbara Snizek, psicóloga de uma agência de relacionamentos.

“Estamos em uma época de muita indefinição para o ser humano. O Dourado pode ter representado essa volta de um homem que se define, que sabe o que pensa e o que quer.”

Renate Michel, psicoterapeuta, mestre em Educação e professora da PUCPR.

Maridos à moda antiga
Teoricamente, mulheres mo­­­­dernas e emancipadas tenderiam a se interessar por homens igualmente mais “evoluídos” – sensíveis, compreensivos, atenciosos, prestativos, e que se disponham a dividir a provisão financeira da família, as atribuições domésticas e a educação dos filhos. Certo?

Nem sempre. Há ca­­­sos de mulheres dinâmicas e independentes que, à procura do homem “ideal”, acabam cedendo aos encantos dos machões à moda antiga. É o caso da empresária Paula Cris­­­tina Mafra Magalhães Monteiro, 31 anos, casada há mais de três anos com o gerente de transporte Gustavo Nicolau Mello, 31, – com quem tem uma filha, Ma­­­riana, 3.

Osso duro de roer

Gustavo é o estereótipo do ma­­­­chão: quase dois metros de altura, forte, cara de poucos amigos e uma maneira de pensar que provocaria a fúria de muitas mulheres. “Dentro de casa tem que prevalecer a opinião masculina”, dispara. E vai além: “Eu preferia que a Paula não trabalhasse, porque ela cuidaria melhor da casa, da Mariana e de mim”. Tampouco é muito dado aos afazeres domésticos – com exceção da culinária ocasional. “Ele cozinha muito bem, às vezes melhor do que eu”, admite Paula, que sintetiza a mulher contemporânea – determinada, trabalhadora, independente. E o que então ela viu num cara como Gustavo? Ela mesma responde: “Proteção, segurança… a gente também percebe esse jeito mais rude como uma postura muito segura, e toda mulher precisa de segurança.”

Mesmo assim, Paula ainda acredita que um dia vai conseguir fazer aflorar o lado mais “sensível” de Gustavo: “Eu enxergo bem no fundo dele uma sensibilidade, uma faceta mais delicada e romântica”.

A psicóloga Bárbara Snizek entende o que Paula quer dizer, e explica que nem mesmo o mais machão assume esta postura o tempo todo. “As pessoas não são os personagens puros. No caso das mulheres, ficam esperando um tipo ideal, o cara másculo, mas que ajude em casa, seja sensível, ajude com os filhos e abra a porta do carro. Mas acontece que o tipo ideal não existe e nem pode ser moldado e aí vêm os conflitos”, diz.

Camuflagem

Quando a publicitária Su­­­­za­­­na Gauginski Camboim, 33 anos, se interessou pelo engenheiro químico Fabrício Philippi Camboim, 35, viu que ele se aproximava muito do ideal traçado por boa parte das mulheres. “Como ele cresceu numa casa com três irmãs, parecia ter ao mesmo tempo a segurança do homem clássico e a sensibilidade do moderno. A gente quer um homem protetor, mas que seja também mais flexível. E ele precisa ter sensibilidade para conciliar os dois papéis”, diz.

No ano passado, Suzana cedeu aos apelos do marido e pa­­­rou de trabalhar fora para poder dedicar mais tempo à filha Mirella, de 4 anos. Foi quando Fabrício revelou seu lado mais conservador. Para resolver o problema financeiro, passou a depositar uma mesada para a mulher mensalmente. “Para mim, o papel do homem e o da mulher na família são complementares: o homem deve ser o provedor financeiro e trazer segurança para o lar, enquanto à mulher cabe agregar e manter a harmonia da família, transmitir valores, orientar e passar uma boa educação aos filhos.” E tenta amenizar: “Os dois papéis são igualmente importantes”. Mas ela não aceita quietinha, e protesta em alto e bom som: “Eu vou voltar a trabalhar.” Referência: Gazeta do Povo – Por: Adriana Czelusniak - adrianacz@gazetadopovo.com.br

Em outra época, outra entrevista:


Livros de graça e ao alcance das mãos
Publicado em 10/06/2008 | POLLIANNA MILAN
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Perca um livro e incentive a leitura entre as pessoas que você não conhece. Esse é o objetivo de um projeto lançado no Brasil, o Passe Adiante, e que já é habitual em outros 130 países. Trata-se de uma corrente de leitura que pretende aumentar o número de leitores no país: após ler um livro, a pessoa é convidada a deixar a publicação em um local público para que outro leitor possa ter acesso à obra. Por isso não estranhe se algum dia você encontrar um livro “perdido” em um banco de alguma praça.
Na última sexta-feira, a reportagem acompanhou a distribuição de quatro livros pelas ruas da cidade. A primeira reação de quem encontra a obra é tentar devolvê-la à pessoa que supostamente teria perdido. Depois vem o olhar desconfiado: não será uma pegadinha? Somente quando a pessoa começa a manusear o livro é que vai entender o projeto: na capa, um selo o identifica como sendo de uma corrente de leitura. Logo em seguida, a pessoa começa a ler a obra ou a leva para casa, com a promessa de que depois vai deixá-la em algum outro lugar da cidade. “Gostei do projeto, porque ganho pouco e não posso comprar livros. A sorte é que o que eu encontrei era de poesia, minha leitura predileta”, conta o promotor de vendas Julio Cesar Mariano, que achou a obra em um banco da Praça Zacarias, onde pretende deixá-la daqui a alguns dias
O projeto é uma iniciativa das Livrarias Curitiba e existe desde 2005 na capital paranaense. Ao todo, já foram colocados na rua cerca de 5 mil exemplares. “Algumas pessoas que conheceram o Passe Adiante nos procuraram para conseguir a etiqueta e, assim, colocar livros por conta própria nas ruas da cidade. É sinal de que deu certo”, explica a gerente de marketing da rede, Adriane Pasa.
Empréstimo
Compartilhar livros para aumentar o acesso à leitura é uma prática comum desenvolvida entre os brasileiros, conforme apontou a última pesquisa sobre leitura no Brasil, divulgada na semana passada – ela foi feita pelo Instituto Pró-libro, em parceira com o Ibope Inteligência. Os livros lidos, segundo o Instituto, normalmente são emprestados de amigos, parentes ou de bibliotecas. A compra ocorre apenas entre a população de maior poder aquisitivo.
Duas educadoras consultadas pela reportagem elogiaram o projeto Passe Adiante, porque ele acaba sendo uma forma de aumentar o número de livros lidos ao ano, que hoje não chega a cinco obras por pessoa. “Mas é importante lembrar que um projeto como este só existe porque o Estado está omisso. Ele tem a obrigação de disponibilizar cultura, mas não o faz”, afirma a professora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Lígia Klein. A doutora em literatura e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) Catia Toledo Mendonça, diz que a iniciativa já é uma forma de fazer com que as pessoas manuseiem o livro e comecem a se interessar por ele. “Por trás disso, porém, é preciso ter um acompanhamento. Corre-se o risco de a pessoa pegar um livro que não está preparada para ler. Então, desiste da leitura e começa a achar que ler não é bom”, lembra.

Caixa de guardados


REmexendo umas páginas da Internet, encontrei esse registro, que eu não tinha. Acho que vale a pena retomar.


O 2º Encontro do Programa de Leitura Petrobras / REPAR teve como tema Juventude e Violência e foi realizado no dia 27 de abril em Araucária. Após a abertura do evento, realizada pela Petrobras, houve a apresentação do curta-metragem “Um pouco mais, um pouco menos” de Marcelo Masagão. O autor convidado, Miguel Sanches conversou com os professores que, logo depois, assistiram a apresentação do espetáculo “O Bonequinho Vil”, com o grupo Conversa Fiada. Outro curta-metragem foi mostrado, “Noventa minutos” de Ronaldo German. A professora de literatura da PUC de Curitiba, Cátia Toledo foi responsável pela síntese do encontro.


Uma platéia de professores atentos aos palestrantes


Apresentação do grupo Conversa Fiada


Participantes da mesa redonda: Ivete Espírito Santo, coordenadora do programa; Jason Prado, diretor do Leia Brasil; a pedagoga Ângela Mendonça; o autor Miguel Sanches e a professora Cátia Toledo.

Publicado em Paraná / REPAR | Nenhum comentário »

domingo, 23 de maio de 2010

Concurso literário

Para os escritores de plantão, há mais um concurso literário. Participem!

*Prêmio Sesc de Literatura*

edição 2010
*Inscrições abertas entre 10 de maio a 30 de setembro*



I - APRESENTAÇÃO
*1 *O PRÊMIO SESC DE LITERATURA é promovido pelo SESC – Serviço Social do
Comércio, e objetiva premiar textos inéditos nas categorias CONTO e ROMANCE,
escritos em língua portuguesa, por autores brasileiros ou estrangeiros
residentes no Brasil.


II - INSCRIÇÃO
*1* Cada concorrente poderá participar com apenas uma obra em cada
categoria. Caso participe em ambas categorias, as inscrições deverão ser
enviadas separadamente, com pseudônimos distintos.

*2* O(s) texto(s) inscrito(s) deverá(ão) ser inédito(s), ou seja, nunca
ter(em) sido publicado(s). Entende-se por publicação o processo de edição de
uma obra literária e sua distribuição em livrarias ou pela internet.

*3* O autor não poderá ter nenhum livro publicado na(s) categoria(s) em que
se inscrever.

*4* Os originais deverão ser enviados em quatro vias, encadernadas, com
folha de rosto na qual deverão constar apenas o TÍTULO da obra e o
PSEUDÔNIMO (obrigatório) do autor, acompanhadas de envelope lacrado com os
dados do autor.

*5* O texto deverá ser digitado (editor de texto Word) em espaço duplo, em
apenas um lado da folha, fonte Times New Roman tamanho 12, estilo normal, na
cor preta; parágrafo de alinhamento justificado; espaço entrelinhas duplo;
todas as margens 2,5 e impressos em papel A4. No livro de contos, cada CONTO
deverá ser iniciado numa nova página, bem como cada capítulo do ROMANCE
deverá ser iniciado em uma nova página.

*6* Em envelope lacrado, anexo à obra, deverão ser informados os dados do
autor: pseudônimo, nome, data de nascimento, título da obra, identidade,
CPF, endereço completo, telefone, e-mail, currículo resumido e uma
declaração de autoria e responsabilidade pelos direitos da obra, assinada
pelo autor. O envelope deverá ser identificado externamente com PSEUDÔNIMO
do autor e TÍTULO da obra.

*7* A obra enviada deverá ter entre 130 e 400 páginas, caso seja ROMANCE; e
70 e 200 páginas, caso seja LIVRO DE CONTOS. Para tanto, será rigorosamente
observada a formatação determinada no item 5.

*8* As inscrições deverão ser enviadas entre 10 de maio a 30 de setembro de
2010. A data que constar no carimbo do correio servirá como comprovante de
inscrição no prazo determinado.


III - JULGAMENTO
*1 *As obras inscritas serão analisadas por Comissões Julgadoras compostas
por escritores, especialista em literatura, jornalistas e críticos
literários, indicados pelo SESC.

*2* A comissão julgadora final atribuirá o Prêmio SESC a uma única obra em
cada categoria e poderá indicar até 03 (três) menções honrosas por
categoria.

*3* O único critério para seleção das obras vencedoras é o mérito literário,
cabendo ao júri final a decisão, que será soberana e não suscetível de
apelo.


IV - PREMIAÇÃO
*1* O resultado do PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2010 será divulgado em março de
2010.

*2* O vencedor de cada categoria terá sua obra publicada e distribuída
comercialmente pela Editora Record, com uma tiragem inicial de 2.000
exemplares.

*3* O autor vencedor de cada categoria terá direito a 10% do valor de capa
da obra quando da sua comercialização em livrarias. Parte da primeira edição
será adquirida pelo SESC para inserção no acervo de bibliotecas da
instituição.

*4* A cerimônia de premiação será realizada no Rio de Janeiro, com data
prevista para julho de 2010.
*5 *O autor vencedor de cada categoria poderá participar de lançamentos da
obra em eventos literários promovidos pelo SESC, que assumirá os custos de
locomoção e estadia do escritor.

*6* Os autores indicados para Menção Honrosa receberão um certificado
emitido pelo SESC, atestando a qualidade da obra para possível análise e
publicação no mercado editorial, além de kits com livros publicados pela
Editora Record.


V - DISPOSIÇÕES GERAIS
*1* As inscrições para o PRÊMIO SESC DE LITERATURA são gratuitas.

*2* Entende-se por romance uma narrativa ficcional longa. E por livro de
contos um conjunto de narrativas ficcionais curtas. Não serão aceitas
inscrições com apenas um conto.

*3* É vetada a participação de funcionários, estagiários e parentes em até
segundo grau de funcionários da Record e do SESC, da Confederação Nacional e
Federações do Comércio, bem como de todos os envolvidos no processo de
julgamento do concurso.

*4* Será de responsabilidade do autor o compromisso de que o texto é
inédito. Caso seja constatada sua publicação, a inscrição será anulada.

*5* Não serão aceitas inscrições de obras póstumas. A coautoria será aceita
apenas para ROMANCE.

*6* Será permitida a inscrição de obra cuja pequena parcela do conteúdo
tenha sido publicada em blogs pessoais ou revistas eletrônicas, desde que
não ultrapasse ¼ (um quarto) do total da obra inscrita.

*7 *Nenhuma obra enviada será devolvida.

*8* O autor vencedor de cada categoria terá direito a passagem aérea –
exceto se for oriundo do estado do Rio de Janeiro – e estadia pagas pelo
SESC para comparecer à premiação, sem direito a acompanhante.

*9* A companhia aérea e o horário do vôo para o Rio de Janeiro serão
definidos pelo SESC, que também irá definir o hotel e o número de pernoites
a que os dois vencedores terão direito.

*10 *Ao se inscrever no PRÊMIO SESC DE LITERATURA, o candidato estará
automaticamente concordando que conhece e aceita integralmente os termos
deste Edital.


Literatus

Na sexta-feira passada, dia 21 de maio, aconteceu mais um encontro do Literatus, grupo de estudos de literatura contemporânea. Dessa vez o livroo lido foi "Chá das cinco com vampiro", de Dalton Trevisan. Foi uma conversa muito proveitosa.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

II Concurso de contos Marina Colasanti

A partir do dia 1 de junho estarão abertas as inscrições para o II Concurso de Contos Marina Colasanti. Em breve postarei o edital aqui.
Escritores de plantão, fiquem atentos....

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre literatura de entretenimento

Todos conhecem minha posição frente à literatura de entretenimento. Todos sabem como foi difícil defender minha tese sobre a Série Vaga-lume, acusada de ser "literatura menor", e até paradidática.Não liguei e continuei em frente.
Defendi e continuo a defender um lugar para a literatura de entretenimento no processo de formaçao de leitores, tema de quase todas as minhas palestras e cursos.
Por isso, foi um imenso prazer encontrar no Jornal Rascunho uma matéria de um colega do Rio de Janeiro, com argumentos muito semelhantes aos meus.
Decidi, então, divulgar o texto, para que a discussão continue. Lá vai:

PALAVRA SEDUTORA
O entretenimento como conceito de valor na literatura; alguns autores não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas

Felipe Pena - Rio de Janeiro - RJ



Boa parte da literatura brasileira contemporânea presta um desserviço à leitura. Os autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a satisfação de sua vaidade intelectual. Escrevem para si mesmos e para um ínfimo público letrado e pretensamente erudito, baseando as narrativas em jogos de linguagem que têm como único objetivo demonstrar uma suposta genialidade pessoal. Acreditam que são a reencarnação de James Joyce e fazem parte de uma estirpe iluminada. Por isso, consideram um desrespeito ao próprio currículo elaborar enredos ágeis, escritos com simplicidade e fluência. E depois reclamam que não são lidos. Não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas.
Usei as palavras acima em uma entrevista concedida a um jornal carioca no ano passado, quando fui injusto e deselegante com diversos autores brasileiros de ficção que não se encaixam no perfil descrito. Minha generalização, no entanto, foi retórica, estratégica. Tinha como objetivo levantar a discussão sobre a formação de um público leitor no país e contestar o predomínio de uma parte da crítica acadêmica que ainda vê na anacrônica experimentação e em conceitos ligados aos formalistas russos do início do século passado os valores supremos do texto literário.
Como disse naquela entrevista, são os doutores universitários (e me incluo na lista) que prejudicam a formação de um público leitor no país. A linguagem da academia é produzida como estratégia de poder. Quanto menos compreendidos, mais nossos brilhantes professores se eternizam em suas cátedras de mogno, sem o controle da sociedade. E isso se reflete na literatura.
Em recente polêmica envolvendo uma crítica da professora Beatriz Resende ao seu último livro, o escritor João Ximenes Braga desabafou: "Críticos de cinema e música entendem que há espectadores e ouvintes com desejos diversificados. Chegamos aos livros e, danou-se, os acadêmicos e certos críticos que sempre falam em ‘a literatura' com artigo definido, como se houvesse um único cânone a ser seguido, não fazem cerimônia em dizer que o leitor que não os obedece é burro ou pouco exigente".
Braga pondera que, pela premissa da crítica brasileira, dificilmente haveria uma versão brasileira contemporânea de fenômenos de qualidade e popularidade como o inglês Nick Hornby e o americano David Sedaris. Segundo ele, certos críticos locais os matariam no nascedouro e trucidariam sua linguagem simples, pois negam a possibilidade de uma literatura que não seja dirigida a uma casta de leitores que habita uma torre de marfim.
Concordo com ele. É fácil perceber que grande parte da nossa ficção é elitista e pretensiosa. Os autores (estou novamente generalizando de propósito) não se preocupam com o principal, que é contar uma história. Alguns livros nem história têm, limitando-se ao já mencionado experimentalismo lingüístico.
Isso não significa, no entanto, que não sejam boa literatura. Pelo contrário, alguns são obras de arte de relevante valor. Só não são acessíveis. Eu, por exemplo, leio esses autores, mas tenho doutorado em Literatura. Aliás, isso é parte do problema: a academia e uma elite leitora convencionaram que só tem valor aquilo que está na elipse, que força o leitor a encontrar sentido onde poucos conseguem enxergar. Por essa premissa, o que é fácil de ler não tem valor literário. E quem discorda dela é taxado de superficial.
Compromisso narrativo
Voltemos, então, à injustiça que cometi. Quero citar alguns autores que defendem o retorno ao compromisso narrativo e não se encaixam no perfil de herméticos. Um deles, o jovem Rodrigo Lacerda, deixou isso claro em entrevista recente a este jornal (Rascunho 115): "Busco uma história bem contada, isto é, aquela que constrói um fluxo envolvente e cujas situações transmitem eficientemente os dramas dos personagens, estabelecendo contato emocional com o leitor".
A definição de Lacerda é primorosa e, como ele, há diversos escritores brasileiros que enveredam pela mesma estratégia. Fernando Molica, Adriana Lisboa, Tatiana Salem Levy, Homero Senna, Edney Silvestre, Bernardo Carvalho, Cristovão Tezza, Livia Garcia-Roza, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues estão entre eles. E me perdoem todos aqueles que não mencionei.
Concordo que cada um escreva como pode, como diz o André de Leones. Mas alguns podem mais do que os outros. O que proponho não é desvalorizar os autores que seguem a verve intelectual da crítica especializada, muito menos desarticular seus grupos de influência que se eternizam em elogios mútuos (e, às vezes, justos) pelos cadernos de cultura do país. O que desejo é apenas abrir espaço para um outro tipo de literatura, cuja proposta de retorno ao compromisso narrativo inclua mais um conceito demonizado pela crítica: o entretenimento.
Para os doutores da academia, entreter significa passar o tempo. É um termo pejorativo, aviltante, usado para diminuir uma obra. Mas não é o que ele significa para quem se envolve com um livro e não consegue largá-lo. Em literatura, entretenimento é sedução pela palavra escrita. É a capacidade de envolver o leitor, fazê-lo virar a página, emocioná-lo, transformá-lo.
É esse o conceito de entretenimento que defendo para a ficção brasileira. Tenho a impressão de que todas as outras artes já o utilizam dessa forma, mas a literatura ainda parece padecer da velha dicotomia entre o erudito e o popular. O paradigma do biscoito fino é uma falácia de quase cem anos na cultura deste país. É o argumento da exclusão. São os brioches da nossa literatura, difundidos pelas Marias Antonietas encasteladas na linguagem empolada do hermetismo. Mas a guilhotina vai chegar.
Ao contrário do que apregoaram certos apocalípticos, a popularização da tecnologia valorizou a escrita e, portanto, aumentou o interesse pelo texto, pela palavra. Há leitores neste país, mas é preciso respeitá-los. É preciso produzir narrativas que não sejam meros exercícios de egocentrismo e/ou missivas elípticas endereçadas aos pares. Escrevemos para sermos lidos, o que deveria ser óbvio, mas parece um pecado mortal no sacro universo de nossa literatura. Acredito que precisamos de livros de ficção que sejam acessíveis a uma parcela maior da população. E isso não significa produzir narrativas pobres ou mal elaboradas. Escrever fácil é muito difícil, já ensinava o ululante Nelson Rodrigues.
Terror entre escritores
Minhas reflexões não enveredam pela negação das qualidades e da diversidade da literatura brasileira, mas por uma discussão sobre a formação de um público leitor no país. Mesmo quando classifico boa parte dos autores contemporâneos como chatos, herméticos e bestas, faço-o do ponto de vista da disseminação da leitura, não da análise estética, embora esta última esteja intrinsecamente ligada à minha crítica.
Não se trata de colocar o desejo soberano de ser lido na origem do processo criativo. Mas de entender por que não há espaço para aqueles que têm tal desejo. A literatura brasileira contemporânea tem poucos autores dispostos a contar uma boa história, sem a preocupação de produzir experimentalismos e jogos de linguagem, mas eles convivem com o receio de serem arbitrariamente rotulados como superficiais.
Apesar da tão apregoada diversidade da prosa nacional, a crítica acadêmica dividiu-a em pólos antagônicos. Quem não é moderninho, é superficial. E ponto final. Essa é a generalização leviana da nossa literatura. É ela que produz distorções, afasta leitores e joga sua névoa sobre o mundo literário, além de disseminar o terror entre os escritores.
E quando falo em terror, não estou exagerando. Vários escritores já me procuraram para dizer que concordam com as idéias aqui apresentadas, mas afirmam que jamais as defenderiam em público com medo de serem rotulados pela crítica. Recentemente, um grupo de dez autores (eu inclusive) assinou um manifesto em defesa da popularização e do entretenimento na literatura. Quando o documento foi divulgado na imprensa, metade do grupo retirou a assinatura. É verdade que outros se juntaram a nós, mas a dissidência confirma que o receio de "brigar" com o pensamento dominante ainda é muito forte na comunidade literária. Embora também queira deixar claro que todos os dissidentes têm o nosso respeito e admiração e apresentaram bons motivos para sair, sendo que um deles se retirou do grupo simplesmente por não ter vocação para a "luta", como muito bem descreveu em sua carta de saída, que é de uma sinceridade louvável.
Mesmo assim, sou um otimista, pois já há um movimento contrário ao "status quo literário" no interior da própria crítica. O recente livro do ensaísta búlgaro Tzvetan Todorov, um dos herdeiros mais ilustres do formalismo, é um claro exemplo. Em A literatura em perigo (Difel, 2009), Todorov afirma que o principal risco que ronda a literatura é o de não participar mais da vida cultural do indivíduo, do cidadão. E isso acontece, segundo o autor, porque os escritores não se preocupam com a afetividade e o prazer do leitor, limitando-se apenas a aspirar ao elogio da crítica.
Em um mea culpa corajoso, Todorov conclui:
A história da literatura mostra bem: passa-se facilmente do formalismo ao niilismo ou vice-versa. (...) Numerosas obras contemporâneas ilustram essa concepção formalista de literatura; elas cultivam a construção engenhosa, os processos mecânicos de engendramento do texto, as simetrias, os ecos, os pequenos sinais cúmplices. (...) Para essa crítica, o universo representado no livro é auto-suficiente, sem relação com o mundo exterior.
Outro crítico de renome, o professor Émile Faguet, titular da cadeira de Literatura Francesa na Sorbonne, também vai pelo mesmo caminho no ensaio A arte de ler (Casa da palavra, 2009), quando dá a um capítulo o título de Escritores obscuros:
Esses autores desfrutam sempre de enorme reputação. Têm um bando e um sub-bando de admiradores. O bando é composto por aqueles que fingem entendê-los, o sub-bando por aqueles que não ousam dizer que não os compreenderam e que, sem os lerem, declaram que são primorosos.
Mas também há exemplos mais antigos. O irlandês C. S. Lewis, que morreu em 1963, dizia que a grande leitura não exige perícia ou força; exige, ao contrário, desarme e paixão. Lewis era um defensor do leitor leigo, "comum", ou seja, "aquele que lê sem nada esperar, que lê simplesmente porque o livro o agarra e ele não consegue mais largá-lo".
É em busca desse leitor que vai a literatura de entretenimento. E não custa repetir: entretenimento não é passatempo, é sedução pela palavra. É um conceito ao qual se deve atribuir valor artístico e estético. É um termo que não pode ser rotulado ou tratado com preconceito. É um gênero cuja boa tecelagem está entre as mais difíceis e trabalhosas.
Tudo é linguagem, mas a narrativa é a base da literatura. Uma história bem contada é a meta que perseguimos

Jornal Rascunho- abril de 2010

Sobre o construtivismo

Semanas atrás a revista Veja publicou uma matéria sobre o Construtivismo, que me chamou a atenção. Mesmo pra quem, como eu, tem cá suas restrições ao método,a matéria surpreende. Recomendo a leitura, para que possamos refletir sobre os caminhos da educação brasileira.

09/05/2010
Revista Veja/Marcelo Bertoloti

Um salto no escuro


Mais de 60% das escolas públicas e particulares no Brasil se identificam como adeptas do construtivismo. Sendo assim, parece óbvio que seis de cada dez crianças brasileiras estão sendo educadas com base em uma doutrina didática cuja natureza, objetivos e lógica devem ser de amplo conhecimento de diretores, professores e pais. Correto? Errado. Uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) desvenda um cenário obscuro. Em plena era da internet, os conceitos do construtivismo parecem ter chegado ao Brasil via as ondas curtas de 49 metros de propagação troposférica, com suas falhas e chiados. Ninguém sabe ao certo como o construtivismo funciona, muito menos saberia listar as razões pelas quais ele foi adotado ou deve ser defendido. Ele é definido erradamente como um "método de ensino". O construtivismo não é um método. É uma teoria sobre o aprendizado infantil posta de pé nos anos 20 do século passado pelo psicólogo suíço Jean Piaget. A teoria do suíço deu credibilidade à concepção segundo a qual a construção do conhecimento pelas crianças é um processo diretamente relacionado à sua experiência no mundo real. Ponto. A aplicação prática feita nas escolas brasileiras tem apenas o mesmo nome da teoria de Piaget. O construtivismo tornou-se uma interpretação livre de um conceito originalmente racional e coerente. Ele adquiriu várias facetas no Brasil. Unifica-as o primado da realidade da criança sobre os conceitos básicos das disciplinas tradicionais. Traduzindo e caricaturando: como não faz frio suficiente na Amazônia para congelar os rios, um aluno daquela região pode jamais aprender os mecanismos físicos que produzem esse estado da água apenas por ele não fazer parte de sua realidade. Isso está mais longe de Piaget do que Madonna da castidade.

A experiência mostra que as interpretações livres do construtivismo podem ser desastrosas – especialmente quando a escola adota suas versões mais radicais. Nelas, as metas de aprendizado são simplesmente abolidas. O doutor em educação João Batista Oliveira explica: "O construtivismo pode se tornar sinônimo de ausência de parâmetros para a educação, deixando o professor sem norte e o aluno à mercê de suas próprias conjecturas". Por preguiça ou desconhecimento, essas abordagens radicais da teoria de Piaget são a negação de tudo o que trouxe a humanidade ao atual estágio de desenvolvimento tecnológico, científico e médico. Sua ampla aceitação no passado teria impedido a maioria das descobertas científicas, como a assepsia, a anestesia, as grandes cirurgias ou o voo do mais pesado que o ar. Sir Isaac Newton (1643-1727), que escreveu as equações das leis naturais, dizia que suas conquistas só haviam sido possíveis porque ele enxergava o mundo "do ombro dos gigantes" que o precederam. O conhecimento que nos trouxe até aqui é cumulativo, meritocrático, metódico, organizado em currículos que fornecem um mapa e um plano de voo para o jovem aprendiz. Jogar a responsabilidade de como aprender sobre os ombros do aprendiz não é estúpido. É cruel.

Em um país como o Brasil, onde as carências educacionais são agudas, em especial a má formação dos professores, a existência de um método rigoroso, de uma liturgia de ensino na sala de aula, é quase obrigatória. A origem latina da palavra professor deveria ser um guia para todo o processo de aprendizado. O professor é alguém que professa, proclama, atesta e transmite o conhecimento adquirido por ele em uma arte ou ciência. Nada mais longe da realidade brasileira, em que menos da metade dos professores é formada nas disciplinas que ensina. À luz das versões tropicais do construtivismo, essa deficiência é até uma vantagem, pois, afinal, cabe aos próprios alunos definir com base em sua realidade o que querem aprender. É claro que um modelo assim já seria difícil funcionar em uma sala de aula ideal, com um mestre iluminado cercado de poucos e brilhantes pupilos. Nas salas de aula da realidade brasileira, é impossível que essa abordagem leniente dê certo. Adverte o doutor em psicologia Fernando Capovilla, da Universidade de São Paulo (USP): "As aulas construtivistas frequentemente caem no vazio e privam o aluno de conteúdos relevantes".

Um conjunto de pesquisas internacionais chama atenção para o fato de que, em certas disciplinas do ensino básico, o construtivismo pode ser ainda mais danoso – especialmente na fase de alfabetização. Enquanto na pedagogia tradicional (a do bê-á-bá) as crianças são apresentadas às letras do alfabeto e aos seus sons, depois vão formando sílabas até chegar às palavras, os construtivistas suprimem os fonemas e já mostram ao aluno a palavra pronta, sempre associada a uma imagem (veja o quadro). A ideia é que, ao ser exposto repetidamente àquela grafia que se refere a um objeto conhecido, ele acabe por assimilá-la, como que por osmose. De acordo com a mais completa compilação de estudos já feita sobre o tema, consolidada pelo departamento de educação americano, os estudantes submetidos a esse método de alfabetização têm se saído pior do que os que são ensinados pelo sistema tradicional. Foi com base em tal constatação que a Inglaterra, a França e os Estados Unidos abandonaram de vez o construtivismo nessa etapa. O departamento de educação americano também o contraindicou para o ensino da matemática – isso depois de uma sucessão de maus indicadores na sala de aula.

O construtivismo ganhou força na pedagogia durante a década de 70, época em que textos de Piaget e de alguns de seus seguidores, como o psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934), vários dos quais traduzidos para o inglês, foram descobertos nas universidades americanas. Foi a partir daí que a corrente se disseminou por escolas dos Estados Unidos e da Europa. No Brasil, virou moda. Uma década mais tarde, porém, tal corrente começaria a ser gradativamente abandonada nos países que a adotaram pioneiramente. Os responsáveis pelo sistema educacional daqueles países chegaram a uma mesma conclusão: a de que a adoção de uma filosofia que não se traduzia em um método claro de ensino deixava os professores perdidos, deteriorando o desempenho dos alunos. Hoje, são poucos os países ainda entusiastas do construtivismo. Entre eles estão todos os de pior desempenho nas avaliações internacionais de educação. Com seis de cada dez crianças brasileiras entregues a escolas que se dizem adeptas do construtivismo, é de exigir que diretores, professores, pais e autoridades de educação entendam como se atolaram nesse pântano e tenham um plano de como sair dele.